Fui surpreendido na semana passada com um pedido de desculpas e de perdão que esperava há 30 anos e que, sinceramente, não acreditava mais que fosse acontecer.
Mas aconteceu.
O ex-presidente Fernando Collor de Mello finalmente pediu perdão ao povo brasileiro pelo gesto insano de confiscar a poupança no dia seguinte a sua posse na presidência da república, em 1990.
No seu pedido de desculpa, Collor confessa que naquele momento as medidas radicais eram o caminho certo. Não era.
O homem que se elegeu prometendo liquidar a inflação com um único tiro errou o alvo.
E ao errar o alvo desperdiçou sua única bala e com isso provocou uma das maiores tragédias já registrada pela nação.
O famoso caçador de marajás, saudado pela maioria da população como um legítimo Indiana Jones, nos enterrou na maior crise econômica da nossa história.
Infelizmente errei, confessa agora, candidamente.
A Collor não cabia outro caminho. A ele só restava o caminho da humildade, só restava o caminho do perdão.
Jesus nos ensinou a perdoar.
– perdoa teu irmão até 70 vezes 7 se preciso for.
Mas, perdoar Collor, convenhamos, é difícil.
Quem viveu aquela época há de concordar.
Collor, de uma canetada só, confiscou 80 por cento de tudo dinheiro aplicado pelos brasileiros. Não só em caderneta de poupança ou contas correntes, mas em todas as aplicações financeiras.
De uma vez só Collor retirou de circulação 100 bilhões de dólares, o equivalente a época a 30 por cento do PIB.
Esse gesto provocou infartos e falências; promoveu suicídios e desfez famílias. Um verdadeiro tsunami brasileiro.
Um tsunami tão grande que talvez 30 anos seja muito pouco tempo para esquecer e perdoar. Até mesmo para o brasileiro de memória curta.
Só mesmo seguindo as palavras de Jesus e tentando chegar às 77 vezes 77. Isto é, perdoar sempre.
Realmente será necessário um grande esforço, uma grande mudança interior para que esse perdão se realize.
Primeiro precisamos entender para então aplicar o perdão, numa circunstância onde é natural que surjam o ódio e a vingança.
Depois de tudo ainda teremos que pedir forças para vivê-los sobre os sentimentos contrários.
Absolvei e sereis absolvidos.
Dai-vos e serei dado.
Alguém já disse que perdoar é uma das atitudes mais nobres.
O perdão desata nós na garganta, conforta corações e promove a paz de espírito.
Não é a toa que perdoar é divino.
O perdão reconhece o mal, mas permite que se leve a vida em frente.
O perdão pode conviver com a justiça e não impede que se faça as coisas justas. Que Deus, na sua infinita bondade tenha compaixão de nós.