Nesse tempo de muita turbulência, em que a justiça é questionada abertamente, é impossível não lembrar de Rui Barbosa.
Rui, o nosso grande jurista nascido na Bahia em 1849, e morto no Rio de Janeiro em 1923, continua coberto de razão, apesar do tempo.
Algumas de suas frases continuam tão vivas e tão ligadas à realidade brasileira, que até parece que foram pronunciadas ontem no finalzinho da tarde.
Seus discursos, seus escritos, suas frases, ainda hoje são impressionantemente atuais.
Vamos a mais um exemplo do velho e sempre bom Rui Barbosa.
Um exemplo atualíssimo, embora seu autor tenha vivido no império e no começo da República. Há bastante tempo, portanto.
Escreveu ele àquela época:
“Saudade da justiça imparcial, exata, precisa, que estava ao lado da direita, da esquerda, centro ou fundos. Porque o que faz a justiça é o “ser justo”.
Tão simples e tão banal.
Tão puro.
Saudade da justiça pura, imaculada.
Aquela justiça que não olha a quem nem o rabo de ninguém.
A que não olha o bolso também.
Que tanto faz quem dá mais, quem pode mais ou quem fala mais.
Saudade da justiça capaz.”
A evocação a Rui Barbosa acontece mais uma vez por conta do novo momento que vive o Brasil.
A população, ou pelo menos boa parte dela, começa a acreditar na tese de que há sim uma velada proteção da justiça a políticos e outras pessoas igualmente envolvidos em atos de corrupção.
A reação popular à presença em locais públicos de magistrados, inclusive magistrados do Supremo Tribunal Federal, a mais alta corte de justiça do país. É uma demonstração clara e uma clara confirmação do que dizemos.
O povo começa a entender que para fazer justiça neste país é preciso que se condene a todos os implicados no desvio de dinheiro público, independentemente do partido ou grupo político a que pertença.
Se a justiça brasileira não agir rapidamente, aí sim, pelo menos parte dos brasileiros vai ter a certeza de que certas figuras foram condenadas injustamente.
A justiça não pode correr esse risco.
A sociedade brasileira não quer uma justiça acuada, muito menos desmoralizada.
O brasileiro continua querendo uma justiça ágil e, sobretudo, justa.
Aliás, não basta parecer justa, tem que ser justa. Até para que o país não caia numa desordem ainda maior.
Rui Barbosa – sempre Rui – dizia que quem lucra com a desordem são os governos desacreditados que, vivendo apenas de viver, tendo violado todas as leis, faltado a todos os deveres, perdido toda a estima pública, necessitam de romancear revoluções, que recomendem o zelo da administração pela estabilidade da paz e autorizem a perpetração de insídias contra o direito desarmado.
Mais atual impossível.