Padre Antônio Vieira, um português da Companhia de Jesus, que viveu e morreu no Brasil há mais de 300 anos, escreveu certa vez que “Muito tempo há que a mentira se tem posto em pés de verdade, ficando a verdade sem pés e com dobradas forças a mentira; e é força que, sustentando-se em pés alheios, ande no mundo a mentira muito de cavalo; e se houve filósofo que com uma tocha numa mão buscava na luz do meio-dia um sábio, hoje, por mais que se multipliquem luzes às do Sol, não se descobrirá um afeto verdadeiro. Buscava-se então a ciência com uma vela, hoje pode-se buscar a verdade com a candeia na mão, que apenas se acha nos últimos paroxismos da vida”.
A mentira, como se pode perceber, não é uma novidade, não é uma coisa do mundo moderno. A mentira é coisa que vem de muito longe, vem do tempo em que a serpente enganou Eva, convencendo-a a comer do fruto proibido.
É uma coisa antiga, realmente.
Mas não se pode negar que hoje se mente muito mais.
Mente-se por tudo.
Mente-se para tirar proveito de algo, mente-se para esconder da opinião pública aquilo que ela precisa saber; mente-se para ocultar malfeitos.
Mente-se a tal ponto que confiar em alguém ficou difícil. E se esse alguém é político, então nem se fala. É impossível acreditar.
A mentira de hoje nem de longe se assemelha àquelas ditas mentiras inocentes.
As mentiras do mundo atual são mentiras que podem afetar a vida das pessoas de maneira dolorosa e cruel. Não afeta apenas relacionamentos, afeta de forma prejudicial e leviana a vida do ser humano.
Plagiando Rui Barbosa em uma conferência sobre a mentira, hoje podemos dizer que mente-se nos protestos. Mente-se nas promessas, mente-se nos programas, mente-se nos projetos e nos progressos.
Mente-se nas reformas, mente-se nas convicções, nas transmutações e nas soluções.
Mente-se nos homens, nos atos e nas coisas. Mente-se no rosto, na voz; na postura, no gesto, na palavra, na escrita.
Mente-se nos partidos, nas coligações e nos blocos. Mente-se aos apaniguados e à nação; mente-se nas instituições, nas eleições e nas apurações.
Mente-se nas mensagens, nos relatórios e nos inquéritos; mente-se nos concursos, nas candidaturas e nas garantias.
Mente-se nas responsabilidades e nos desmentidos. A mentira é geral.
Mas por que mentir?
Por que mentir quando a vida exige é transparência nas ações, exige transparência nos atos de cada um?
No mundo em que vivemos precisamos é de verdade. Precisamos de muitas verdades e de nenhuma mentira.
Afinal, a mentira tem vida curta, mas a verdade dura para sempre.