Futuro tricampeão mundial de Fórmula 1 completou a prova de abertura do campeonato, em Brands Hatch, na quinta colocação
O dia 1º de março se tornou marcante na história do automobilismo mundial. Há exatos 40 anos, em 1981, portanto, o jovem Ayrton Senna da Silva disputou a primeira corrida de sua carreira. No circuito inglês de Brands Hatch, o então piloto da equipe Van Diemen e futuro tricampeão da F1 foi o quinto colocado na prova de abertura do Campeonato Inglês de Fórmula Ford 1600. Era o pontapé inicial para uma das carreiras mais vitoriosas e celebradas de todos os tempos.
Antes de começar sua trajetória no automobilismo de competição, Ayrton brilhou no kart. Foi bicampeão paulista (1976 e 1977), tricampeão brasileiro (1978, 1979 e 1980) e bicampeão sul-americano (1977 e 1980). Faltou o título mundial, já que o paulista bateu na trave com dois vice-campeonatos (1979 e 1980).
Um retrospecto tão vitorioso fez Chico Serra, já piloto de Fórmula 1 da equipe Fittipaldi, recomendar Ayrton a Ralph Firman, que tinha seu time na Fórmula Ford 1600, na época o primeiro passo para quem queria correr na Europa. Parêntese: naquela época, correr na Europa lia-se correr na Inglaterra, onde realmente as coisas aconteciam.
Chegou o dia em que Firman, Chico e Ayrton se encontraram para discutir o contrato para a temporada de 1981. Trocando em miúdos, o estreante queria um maior número de testes e corridas do que o proposto pelo dono da equipe, sem contar que Senna tinha apenas dois terços do valor que a Van Diemen queria para custear o ano. Logo depois, Ayrton foi ao banheiro, e Firman perguntou a Chico:
– Que diabos esse garoto pensa que é?
No fim das contas, o contrato foi assinado, e o então garoto Ayrton da Silva – a adoção do sobrenome Senna viria por sugestão de Chico – partiu para sua primeira temporada no automobilismo.
Ayrton partiu então para a disputa dos torneios RAC British e Towsend Thoresen. Na primeira corrida, em 1º de março de 1981, Senna não teve à disposição um chassis mais atualizado e correu com um carro antigo, pois o novo não estava pronto. No fim, o quinto lugar estava de bom tamanho. No domingo seguinte, o primeiro pódio com um terceiro lugar em Thruxton. E a primeira vitória veio no dia 15 de março, sob chuva, em Brands Hatch. Em 2013, encontrei o mexicano Alfonso Toledano no autódromo de Daytona durante a cobertura da corrida de 24 horas. Contou ele:
– O Ayrton me pediu para explicar aos mecânicos que queria uma pressão maior nos pneus, mas eles não queriam fazer sem a autorização do Ralph Firman. E realmente ele não queria, mas Ayrton insistiu, os dois discutiram. No fim, fizeram o que Ayrton queria. Todos tínhamos a técnica de atravessar o carro como num rali, como Gilles Villeneuve, Ronnie Peterson. De repente me toquei que havia um piloto que tirava meio segundo de mim, e me indicaram que era o Ayrton da Silva. Na primeira curva, a “Paddock”, pensei que ele tinha saído da trajetória, mas não, ele colocava o carro do lado de fora e eu não entendia. Até que terminamos o treino e lhe perguntei por que ele estava arriscando, por que estava indo por fora se todos estavam indo por dentro. Ele me deu a explicação que por fora o asfalto estava verde, não tinha óleo, que estava mais limpo. E nesse dia eu percebi que o automobilismo tinha mudado. Todo mundo deixou de guiar atravessado para ir pela linha que Ayrton estava.
Depois da vitória em Brands Hatch, Senna registrou 11 vitórias, cinco segundos lugares e um quarto. Ganhou por antecipação os dois títulos em jogo na Fórmula Ford 1600. E aí soltou a bomba: abandonaria o automobilismo para ajudar a família nos negócios. Ayrton chegou a trabalhar com o pai Milton, mas, deprimido, recebeu o sinal verde para retomar sua trajetória nas pistas.
Passou a correr na Fórmula Ford 2000, pela equipe Rushen Green. Ganhou o Inglês e o Europeu da categoria com um impressionante retrospecto de 21 vitórias em 28 corridas. Algumas corridas do Europeu eram preliminares das provas de F1, e o jovem brasileiro passou a ser notado pelos chefes das equipes.
Em 1983, Senna subiu para a Fórmula 3, então principal categoria de base antes da F1. O destino foi a tradicional equipe West Surrey, e naquela fase, o brasileiro já tinha bons patrocinadores, além de adotar um esquema de divulgação forte nas redações dos jornais. Com Senna já tido como um candidato a fenômeno da velocidade, a Globo transmitiu ao vivo a corrida que poderia decidir o título em favor do brasileiro, em Silverstone. Naquela corrida, Ayrton foi o segundo, mas depois ele conquistaria o título numa acirrada luta com o inglês Martin Brundle.
Ainda naquele ano, o piloto de 23 anos realizou seus primeiros testes com carros de F1. Primeiro, pela Williams, em Donington Park, onde ele quebrou o recorde da pista para modelos de motor aspirado. Depois, houve outros treinos com Brabham, McLaren e Toleman, que acabou sendo a equipe escolhida para a estreia, em 1984.