26/11/2024

A tragédia dos outros

28 de maio de 2019

27 de maio de 2009, 17 horas, talvez um pouco mais ou um pouco menos.

O sol descia, numa típica tarde de interior e tudo parecia caminhar para o final de mais um dia sem novidades na pequena cidade de Cocal, na região Norte do Piauí.

Parecia… Só parecia…

De repente, mais que de repente, o alarme, o medo e o desespero invadiram a tarde tranquila que se anunciava.

A barragem de Algodões rompeu.

Concretizava-se ali, naquele momento, uma tragédia há muito anunciada. Concretizava-se, ali em Cocal da Estação, uma das piores tragédias já vividas pelos  piauienses.

Materializava-se ali, naquele momento, uma tragédia com nove mortos, uma tragédia que acabou com a vida de centenas de famílias que perderam tudo e ficaram sem ter nem mesmo como sobreviver. Famílias que perderam casa, gado, animais de pequeno porte. E o pior: perderam a esperança, perderam a fé, perderam a vontade viver.

No dia seguinte, num cenário de terra arrasada, ouvi de uma senhora aos prantos:

 ”Porque a água não me levou junto?

Nunca consegui esquecer aquele momento. Um momento de tristeza e de muita dor. 

Mas, infelizmente, muitos esqueceram.

Muitos que jamais deveriam esquecer aquela tragédia esqueceram. Esqueceram não apenas a tragédia, esqueceram a própria responsabilidade naquele triste episódio.

A própria justiça fez sua parte, quando arquivou o processo que tratava do assunto. E arquivou o processo alegando que não teve tempo para aprecia-lo, mesmo após oito longos anos de tramitação.

 A sabedoria nos ensina que se as feridas do teu próximo não lhe causam dor, a sua doença é pior do que a dele.

A dor de Algodões não nos incomoda mais, esta é a verdade. Esta é a nossa grande verdade.

Os responsáveis pela tragédia, inocentados pelo decurso de prazo da justiça, hoje celebram e festejam a vida em seus palácios. As famílias destroçadas pela barragem de Algodões choram seus mortos, choram sua dor e suas mágoas num vale destruído pela força das águas e pela incompetência e a insensibilidade de muitos.

As vítimas de Algodões não merecem apenas as cruzes no pequeno cemitério da  cidade. Eles merecem respeito, merecem respeito à sua memória, o justo respeito que se deve a pessoas honradas e trabalhadoras.

Aos sobreviventes devemos as honras devidas aos heróis. Eles são verdadeiros heróis.

São heróis que nunca desistiram da luta pelos seus direitos, apesar da crueldade com que são tratados todo esse tempo. 

Mas, de qualquer forma, nos resta a certeza de que a justiça divina não tardará aos que forem justos; Deus enxugará de seus olhos toda a lágrima e não haverá mais mortes, nem clamor, nem prantos e nem dor.

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