Há quase quatro anos destaquei aqui uma pesquisa divulgada por uma revista americana revelando que desonestidade gera desonestidade.
A pesquisa apontava que repetidos atos de comportamento desonesto em prol de si próprio diminuem a sensibilidade do cérebro para a desonestidade.
Traduzindo: quanto mais a pessoa pratica atos desonestos, mais seu cérebro acredita que tal ação não é tão ruim assim.
Pobre Brasil!
Se quanto mais se rouba mais se pensa que roubar não é tão ruim assim, onde vamos parar, afinal?
A pesquisa provocou e mediu a desonestidade em um ambiente controlado para notar que há uma explicação biológica para aquelas escorregadas em que pequenos desvios da verdade tornam-se uma bola de neve de atos desonestos substanciais.
Segundo a pesquisa, quando mentimos para ganho pessoal, a nossa amígdala produz um sentimento negativo que limita o quanto estamos preparados para mentir.
No entanto, essa resposta diminui à medida que continuamos a mentir, e quanto mais ela cai, maiores nossas mentiras se tornam.
No livro “A mais pura verdade sobre a desonestidade”, o professor de psicologia e economia comportamental americano Dan Ariely, coloca de forma imperativa que todas as pessoas são desonestas.
A questão, segundo o escritor de origem israelense, é que o comportamento tem duas grandes motivações.
Por um lado, se quer enxergar como pessoas honestas e honradas. Por outro, tanto quanto possível, se quer atender aos interesses.
As pessoas são desonestas ou criminosas por uma simples questão de custo-benefício e consideram que a corrupção é uma atitude deliberada de pessoas altamente sem escrúpulos.
Basta aumentar a punição e diminuir a impunidade para solucionar o problema.
Alguém já disse que se a sociedade brasileira fosse menos tolerante com tantos pequenos atos de desonestidade, certamente não testemunharíamos tantos grandes atos de desonestidade.
Já se disse também que num país onde a desonestidade é culturalmente associada á inteligência, a corrupção sempre será um câncer protagonista.
A desonestidade é um dos mais graves problemas do Brasil.
Em qualquer escala, a desonestidade é um problema.
Seja na periferia, nas favelas, onde se passa a perna na bodega da esquina, ou nos grandes centros, onde grandes empresários desviam verbas públicas.
O Brasil é um exemplo do que revela a pesquisa.
Começamos com o jeitinho brasileiro e fomos evoluindo. Evoluímos tanto que chegamos ao petrólão e à Lava Jato.
Precisamos agora encontrar urgentemente um jeito de barrar a evolução do crime em nosso país.
Precisamos encontrar um jeito de apagar do cérebro do brasileiro a ideia de que roubar não é tão ruim assim.
Afinal, roubar é ruim sim.