DA COSTA E SILVA foi um poeta brasileiro simbolista (Amarante 1885 – Rio de Janeiro 1950). Um dos maiores poetas piauienses. Alguns críticos o comparam a Cruz e Souza até em maior importância. Foi funcionário da Republica e quis ingressar na carreira diplomática. “Nos tempos do barão do Rio Branco não havia concurso para ingressar na carreira diplomática, e a seleção era feita pessoalmente por ele, que conversava com os candidatos, em geral pessoas de família conhecida, de preferência bonitos e falassem línguas estrangeiras. Antônio Francisco da Costa e Silva, ilustre poeta e pai do embaixador e acadêmico Alberto Vasconcellos da Costa e Silva, conversou com o barão sobre a possibilidade de ingresso na carreira, porém o chanceler foi taxativo: – Olha, o senhor é um homem inteligente, admiro-o como poeta, contudo não vou nomeá-lo porque o senhor é muito feio e não quero gente feia no Itamaraty…” (Ribeiro, Guilherme Luiz Leite. Os Bastidores da Diplomacia. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2007, p 50). Historia confirmada por seu filho no prefácio de suas Poesias Completas. Alberto da Costa e Silva diz, na versão familiar, que Rio Branco teria ainda acrescentado ”com crueldade”: “Da Costa, você parece um macaco”. Poesias Completas, Da Costa e Silva, Nova Fronteira, 1985.
Da Costa e Silva, que preenchia todos os requisitos para a carreira diplomática, versado em línguas, teve seu sonho recusado apenas por sua aparência física de nordestino atarracado, cabeça chata, cafuzo, filho da índia escravizada estuprada pelo colonizador (como muito de nós piauienses). O tal “pai” da diplomacia brasileira usou do preconceito contra o nordestino para recusar a candidatura de Da Costa. Reza a lenda que a partir daí, apesar de já reconhecido como poeta, foi acometido de uma melancolia que o acompanhou até o fim da vida.
A primeira vingança veio carregando seu DNA no embaixador e acadêmico Alberto – seu filho temporão – diplomata, poeta, ensaísta, memorialista e historiador brasileiro, membro da Academia Brasileira de Letras e maior conhecedor da cultura africana nas suas diversas manifestações.
Alberto já bastaria, tendo realizado o sonho do pai – indo ainda muito além – para vingar Da Costa. Mas agora Bolsonaro, a besta do nosso apocalipse, destampa o caixão do preconceituoso barão, indicando um embaixador descendente de migrantes europeus de “fina estampa” fotográfica (apenas, se é que podemos esquecer a postura do tosco filho mais novo do boçal), mas uma perfeita anta (que me desculpem as antas) sem nenhum predicado para ser um diplomata.
Se Rio Branco se remexe na tumba, nosso Da Costa deve gargalhar, e já estaria curado de uma melancolia provocada por um preconceito étnico, que o tosco, boçal, beócio e estúpido imbecil colocado na presidência nos dias de hoje sabe compartilhar muito bem.
Pois bem, poeta, hoje temos orgulho. Orgulho de sermos nordestinos, livres do preconceito étnico que o progresso cultural e evolutivo da sociedade já destruiu e só permanece em mentes toscas que tentam frear o processo civilizatório.
Edmar Oliveira
psiquiatra, blogueiro, aprendiz de escritor, leitor contumaz, comunista utópico, socialista desejante