Estudo feito pela historiadora Lívia Alves destaca prática comum dos políticos de lançar familiares a cargos públicos
Matéria de Wanderson Camêlo
A expressão “mais do mesmo” vai fazer sentido novamente nas eleições deste ano. Quer a prova? Basta olhar para os sobrenomes à disposição, até o momento, do povo no pleito de 2022.
Uma vez disse o grande filósofo italiano Nicolau Maquiavel: “Uma mudança sempre deixa o caminho aberto para outras”. No Piauí, parafraseando o filósofo, um político (quase) sempre deixa o caminho aberto para outros, normalmente da mesma família.
Um estudo feito pela historiadora piauiense Lívia Maria Silva Alves mostra como se dá isso na Assembleia Legislativa do Piauí de 1998 a 2014. Ela desenvolveu um trabalho denominado “Eleições, partidos e oligarquias no Piauí: Permanência e reprodução da elite parlamentar”, o qual apresentou em 2018, na Universidade Federal do Piauí (UFPI), como tese de mestrado.
A força do legado familiar, na composição do parlamento estadual, fica evidente do início ao fim do período em que a pesquisadora se debruçou. “Em 1998, por exemplo, foram eleitos 13 novos deputados e destes, sete não tinham conquistado cargos eletivos anteriormente. Quando a análise recai sobre quem foram esses sete deputados que entravam sem experiência na Alepi, percebemos que não são tão inexperientes”, destacou Lívia.
Mauro Tapety foi uma das “novidades” do pleito de deputado estadual daquele ano. Ele foi eleito pelo MDB, mas, antes disso, ocupou o cargo de administrativo da Companhia Energética do Piauí; também foi chefe e assessor de gabinete do pai, o ex-deputado estadual Juarez Tapety. Mauro Tapety reelegeu-se em 2002 e 2006, além disso, ficou na suplência nas eleições de 2010 e 2014, sendo efetivado em ambas as oportunidades.
“Elias Ximenes do Prado Júnior foi outro deputado estreante nas eleições de 1998 e foi eleito pelo PDT. Ele foi presidente da Companhia de Habitação do Piauí (Cohab-PI) e era filho do ex-deputado estadual Elias Ximenes do Prado, eleito em 1978, 1982 e 2002. O outro estreante foi o deputado Flávio Aurélio Nogueira, eleito pelo PSDB. Para este, não foi possível obter mais informações sobre a existência ou não de uma carreira política construída anteriormente”, completou a pesquisadora.
Este ano vão tentar seguir o mesmo caminho de Mauro Tapety, Elias Ximenes e Flávio Aurélio os seguintes nomes:
Vai em busca, representando o Progressistas, de uma vaga na Câmara Federal. Ele é filho do deputado federal Átila Lira (Progressistas), que se retira da política este ano, sobrinho do vereador Antônio José Lira (MDB) e primo do atual prefeito de São Miguel do Tapuio, Pompilio Cardoso, o “Pompilim”.
Vai disputar uma vaga, pelo Progressistas, na Assembleia Legislativa do Piauí (Alepi) nestas eleições no lugar da mãe, a deputada estadual Lucy Soares (PP). O pai de Bárbara é o ex-prefeito de Teresina Firmino Filho, falecido em abril de 2021, um dos principais nomes do PSDB no Piauí.
Em entrevista à Teresina FM, Bárbara destacou que deseja seguir o legado político de Firmino. “Ele não ficava só no gabinete esperando que as pessoas viessem até ele, mas gastava sola e visitava as comunidades. Isso é o que quero construir na minha carreira”, ressaltou.
Outro nome que vai surfar na herança política da família para tentar ingressar no mundo político é Aldo Gil (Progressistas), filho do prefeito de Picos, Gil Paraibano, também do PP. Aldo, diga-se de passagem, foi secretário de Saúde do município, e vai pleitear espaço na Assembleia Legislativa este ano.
Dogim Félix (Progressistas) também pretende disputar uma cadeira na Alepi na eleição proporcional que se avizinha. Como o sobrenome indica, ele é filho do atual prefeito de Campo Maior, Joãozinho Félix (MDB).
“A política tem de ser renovada constantemente. Eu já tenho mais de 20, 30 anos de vida pública e agora tenho um sucessor. Tentei dissuadi-lo, mas ele nasceu dentro desse cenário e colocou seu nome à disposição para ser deputado”, afirmou Joãozinho em entrevista à imprensa.
É nada mais, nada menos que filho do deputado estadual Themístocles Sampaio Filho (MDB), que ocupa o cargo de presidente da Alepi há nove mandatos.
Felipe (MDB) vai tentar assegurar o espaço do pai, pré-candidato a vice-governador na chapa governista, na Casa. Themístocles tenta colocar o segundo filho na política; o primeiro, Marcos Aurélio Sampaio (MDB), foi eleito deputado federal em 2018.
É a esposa do também deputado federal Júlio César; os dois, filiados ao PSD, já têm um filho na política: o deputado estadual Georgiano Neto (PSD). Ela foi a escolhida, sem passar por sabatina, para ser a primeira suplente do pré-candidato ao Senado Wellington Dias (PT).
Karla (Republicanos) teve uma breve experiência, do início de 2021 a março deste ano, como secretária de Políticas Públicas para Mulheres do Município de Teresina.
Ela, que é irmã do vereador, por Teresina, Renato Berger (PSD), pediu desincompatibilização do cargo a pedido do prefeito da capital, Doutor Pessoa (Republicanos), para disputar uma vaga na Câmara Federal.