Gravação divulgada pelo grupo de torcedores “Por um Novo Flamengo” implica crime ao dirigente Rubens Gomes
A temporada 2022 foi desastrosa para o Esporte Clube Flamengo. O clube precisou obter autorização judicial para disputar o Campeonato Piauiense deste ano, uma vez que estava impedido pela Justiça do Trabalho de participar de competições esportivas em função do acúmulo de dívidas trabalhistas.
Entretanto, o que a princípio foi uma vitória nos tribunais se converteu em uma tragédia dentro de campo: a pífia campanha de 13 derrotas em 14 partidas decretou o rebaixamento da equipe à Série B estadual.
Não bastasse o péssimo desempenho nos gramados, as polêmicas extracampo se avolumaram nos meses seguintes. Rubens Gomes, presidente do Flamengo-PI, precisou lidar com jogadores descontentes que denunciaram atraso de salários e estrutura precária do CT do Piauí (onde o clube estava abrigado) e investigação de esquema de manipulação de resultados.
Agora mais uma bomba cai no colo do dirigente do Leão do Pirajá: um áudio, gravado em 29 de março deste ano, revela uma suposta confissão por parte de Gomes a respeito de um pagamento ilícito a atletas do River-PI no Campeonato Piauiense de 2020.
A gravação teria sido feita durante uma reunião entre o dirigente e representantes do grupo “Por um Novo Flamengo”, que acusa o presidente de uma série de irregularidades e exige sua saída imediata do cargo.
À época, o Fla-PI havia perdido sua última partida na fase inicial do Estadual, por 4 a 3, para o Piauí, que terminaria rebaixado à Segundona. Para que não partilhasse do mesmo destino, precisava de um tropeço do Timon, concorrente direto na luta contra a queda, diante do River-PI, na rodada final.
Foi exatamente o que aconteceu. O empate em 1 a 1 entre Galo Carijó e Águia Soberana foi suficiente para rebaixar a equipe maranhense e manter o Rubro-Negro na primeira divisão. Entretanto, a denúncia feita pelo grupo de torcedores indica que o resultado não tenha sido construído de forma “natural”.
Na gravação obtida pela Teresina FM, André Russo, membro do “Por um Novo Flamengo”, interpela o presidente: “O River salvou o Flamengo na última rodada contra o Timon […] Não interessa o que aconteceu ou quem são os responsáveis”. Em seguida, Rubens Gomes afirma: “Quem segurou o Flamengo na primeira divisão foi o próprio Flamengo, e não o River”.
Russo então questiona: “Em 2020? [Você] pagou para o River ganhar?”. E o dirigente responde: “Claro, moço! Eu paguei! Dei um prêmio ao River para não perderem o jogo contra o Timon. Eu paguei a premiação, o Mondragon era o goleiro [do River-PI]. Não dou dinheiro para perder, mas para ganhar…”. Ouça o áudio na íntegra logo abaixo:
A quantia que supostamente teria sido paga por Rubens aos jogadores do Galo não é detalhada. Contudo, a confissão feita pelo presidente foi levada pelos integrantes do “Por um Novo Flamengo” à Delegacia Especializada de Crimes contra a Ordem Tributária, Econômica e Relações de Consumo (Deccoterc), da Polícia Civil do Piauí, onde um inquérito foi instaurado e segue em tramitação.
André Russo lembra que a atitude de Rubens configura crime de acordo com o Art. 243 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD) e o Art. 41, letras D e E, do Estatuto do Torcedor.
“Essa infração, classificada como crime de ‘mala branca’, é passível de multa, punição e até suspensão das práticas esportivas”, enumera o produtor cultural em entrevista à Teresina FM.
Russo aponta, no entanto, que a irregularidade é apenas mais uma dentre as várias cometidas na gestão atual, a começar por supostas fraudes na eleição que conduziu Rubens Gomes à presidência do Fla-PI em 2019.
“O clube disputou três competições com o CNPJ inapto: uma em 2019, ainda na gestão anterior, e duas em 2020 e 2021, sob o comando dele. Nesse período, o Flamengo-PI recebeu recursos públicos, cotas de televisão, ajuda financeira da Federação de Futebol do Piauí (FFP) e nenhuma prestação de contas foi apresentada”, denuncia.
O representante do “Por um Novo Flamengo” destaca a inexistência de um Conselho Deliberativo, órgão extinto há duas décadas, e a negligência do Conselho Fiscal, que deveria analisar os documentos do clube e abrir uma sindicância em caso de ilicitudes encontradas.
“Além disso, há ainda as dívidas trabalhistas contraídas durante o período em que Rubens esteve à frente do Fla-PI. Temos feito um levantamento de quantos processos existem e já foram finalizados, bem como buscamos determinar o montante real dos débitos”, acrescenta.
Outras medidas adotadas pelos torcedores incluem um pedido de destituição e nulidade tanto da ata da última eleição, quanto da posse de Rubens. A ação foi impetrada por um sócio-torcedor do Flamengo-PI e atualmente tramita na 4ª Vara Cível da Justiça do Piauí.
“Vamos ainda acionar o Ministério Público nos próximos dias; tendo em vista que o clube não poderia ter movimentado sua conta bancária devido à inaptidão do CNPJ, o que Rubens tem feito é apropriação indébita dos recursos da instituição. Sem falar nas várias audiências de conciliação às quais ele sequer compareceu ou enviou um representante”, conclui André.
A reportagem da Teresina FM entrou em contato com Rubens Gomes, que negou qualquer tipo de irregularidade e apontou “soluções” para a crise enfrentada atualmente pelo Flamengo-PI. Confira a resposta do dirigente aqui.