Mãe de Victor Gabriel Martins diz que sempre teve preconceito com a maconha, mas passou a estudar mais sobre o medicamento e viu o que, segundo ela, seria a “única opção de trazer qualidade de vida” para o filho
O menino Victor Gabriel Martins, de 11 anos, foi diagnosticado com epilepsia aos dez meses e com pouco mais de um ano começou a ter os primeiros sintomas da síndrome, os espasmos [movimentos involuntários] e as convulsões [um das manifestações da crise epilética].
Ele precisou usar capacete para proteger a cabeça e cadeira de rodas. Aos três anos, as crises aconteciam a cada 10 minutos e a mãe Neide Martins resolveu apostar no canabidiol: “Foi a luz”, celebrou.
O canabidiol é uma entre as mais de 400 substâncias presentes em plantas de cannabis, conhecida também por maconha. Neide contou que sempre teve preconceito com maconha, mas disse ter começado a se informar e entender melhor os efeitos dos remédios. “Vimos um possível tratamento medicinal. […] Era a única opção de trazer qualidade de vida para o meu filho”, contou.
A mãe diz que desde bebê Victor tem problemas causados pela epilepsia e conforme a incidência das crises aumentavam. Os espasmos pioraram e passaram a comprometer o corpo do menino.
“O Victor usou cerca de 20 remédios alopáticos [produzem efeitos contrários aos da doença] e passou por mais de cinco médicos. Nenhum medicamento melhorava [o estado de saúde dele] e os diagnósticos não eram precisos. Ele continuava tendo crise todos os dias, cada vez mais frequentes.”
No final de 2014, quando Victor tinha quase três anos, a mãe contou que o filho piorou. Segundo Neide, ele passou a ter convulsões em intervalos de 10 minutos, em um total de 60 por dia. Foi quando, após muitas pesquisas, Neide viu que remédios a base de canabidiol poderiam trazer melhorias ao filho.
Ela conta que o filho mudou muito desde que passou a usar o canabidiol. Contou ter feito uma festa no dia 19 de janeiro para comemorar os 11 anos do filho. “Ele curtiu e até cantou parabéns. O barulho não incomoda mais ele, que dança e consegue entender tudo de forma clara”.
De acordo com a mãe, além da mudança no comportamento, o menino deixou de usar o capacete e a cadeira de rodas. “Teve uma melhora na coordenação motora e na parte cognitiva. A escola relata sempre coisas positivas. O Victor aprendeu a falar e pratica esporte.“
Neide espera que a história de luta da família dela sirva de lição, principalmente no que diz questão à disponibilização do medicamento de forma simples e gratuita a quem precisa.
“Só quem faz o uso desses produtos sabem a relevância da liberação e a melhora que ele causa na vida do paciente e de quem está no entorno dele. Será uma grande vitória”, acredita.
A médica Paula Dall’Stella contou que o uso de canabinoides podem ter uma relevância muito grande no tratamento do paciente, principalmente para aqueles que têm doenças de difícil controle.
A médica destaca algumas das aplicações em que apresentam resultado positivo. “Na epilepsia, náuseas e vômitos induzidos pela quimioterapia, esclerose múltipla, pacientes idosos para tratamento de ansiedades e depressões, entre diversas condições inflamatórias”.
Paula destacou no entanto o lado negativo do medicamento: “O valor desses remédios é extremamente caro e, muitas vezes, foge da realidade do brasileiro. O acesso pelo SUS, é uma a oportunidade para que os medicamentos cheguem nas mãos de quem precisa e para que todos os pacientes possam fazer o tratamento”.