26/11/2024

Chico Leal

Não somos nada

16 de março de 2020

Contam os mais velhos que certo dia a vida perguntou para a morte: Por que as pessoas me amam e odeiam você?

E a morte respondeu. Porque você é uma linda mentira e eu, uma dolorosa verdade.

Mentira ou não, a vida nos mostra diariamente, em casa, no trabalho, na rua, em cada esquina, que somos meros coadjuvantes. Não passamos disso.

Somos arrogantes, mas trememos de medo diante dos obstáculos, prova maior da nossa fragilidade.

O coronavirus é o mais recente exemplo da nossa pequenez e da nossa insignificância. Todos nós estamos com medo e sem saber o que fazer.

Mas tão logo passe o susto, seremos novamente as velhas pessoas de sempre, provavelmente com uma arrogância ainda maior.

O homem nasce sem trazer nada e morre sem levar nada. Não tem sentido, pois, brigar no intervalo entre a vida e a morte por aquilo que não trouxemos e não levaremos.

Mas, se é assim, para que serve tanto orgulho? Para que serve tanta arrogância? Para que serve tanta superioridade?

Para que serve tudo isso, se do pó viemos e ao pó voltaremos?

Costumamos esquecer que a vida é passageira; costumamos esquecer que  nada é para sempre.

Da vida, tenha certeza, só levamos o essencial: os momentos vividos! Por isso viva a vida com alegria e com muito amor no coração.

Lembremos sempre de nossos irmãos.

Vivemos hoje em casas grandes, mas com pequenas famílias.

Vivemos com mais diplomas, porém com menos senso comum.

É a nossa realidade hoje

Vivemos a época da medicina avançada e da saúde precária.

Conhecemos o mundo, mas não conhecemos os vizinhos.

Temos alto rendimento, mas menos paz de Espírito; muito conhecimento e menos sabedoria.

Temos agendas lotadas e pouco tempo para amar. Temos tantos amigos virtuais, mas não temos tempo para o amigo real; muitos humanos, menos humanidade.

Do que adianta nossos relógios caros, se não temos tempo para amar?

Precisamos voltar a valorizar o que realmente tem valor.

Olhe e veja o que é realmente belo.

Tenha tempo de qualidade com Deus.

Tenha tempo para você mesmo e para sua família.

Tenha tempo para os amigos.

Lembre sempre que a vida passa…

Ela é apenas um sopro.

É uma vela acesa que um dia se apaga.

É um começo.

E um fim!

Viva a vida com intensidade!

Aproveite bem, antes da chegada da indesejada das gentes, quando – ai sim – teremos que partir sem levar nada.

Com ou sem coronavirus.

 

 Nossos pobres heróis

13 de março de 2020

Hoje, 13 de março, é um dos grandes dias da história do Piauí.

Neste dia, no já distante ano de 1823, os caboclos piauienses pegaram em armas para enfrentar o poderoso e temido exército do major português João José da Cunha Fidié.

O destemor desse punhado de bravos, desses heróis anônimos recrutados em meio ao povo simples do Piauí não foi suficiente para vencer os portugueses, é verdade.

Mas a chamada Batalha do Jenipapo, travada na manhã de 13 de março, marcou a história.

Graças a ela desarticulamos as forças opressoras, consolidando nossa independência récem-proclamada.

Mais de 200 bravos morreram. Outros 542 foram feitos prisioneiros.

É o sangue dos que tombaram em nome da pátria que reverenciamos neste dia.

Sem eles nossa liberdade e nossa independência, muito provavelmente, teriam demorado muito mais a surgir no horizonte.

Esses são nossos verdadeiros heróis.

São heróis de verdade, são heróis que não existem mais,

São heróis de um estado pobre de heróis e que não costuma valorizar o que é seu.

São heróis de uma época em que ainda existia o amor ao país, o amor à pátria, o amor à liberdade.

Foram homens que se valeram de velhos facões e de foices para enfrentar uma força militar bem treinada e bem armada.

Foram homens que partiram para a batalha com a certeza da morte nos olhos. 

Mas não recuaram.

Enfrentaram os canhões portugueses de peito aberto, certos de que estavam perdendo a vida em nome de uma causa, aliás, uma justa causa.

Estavam certos que a morte que chegava nas balas do inimigo não significava o fim: significava o início, significava o começo de um novo tempo, tempo de liberdade e de justiça social.

Não podemos aceitar, portanto, que esses homens tenham morrido em vão.

Não podemos aceitar que os nossos bravos morreram em vão, morreram sem razão.

Em vão e sem razão, com certeza, vivemos nós.

Vivemos em vão e sem razão porque ao longo do tempo nos perdemos em devaneios e esquecemos até mesmo a importância das causas pelas quais nossos heróis perderam a vida.

Pobres heróis.

Não honramos hoje os ideais dos nossos antepassados.

Não honramos a memória dos nossos pobres heróis esquecidos pelo tempo.

Mas tudo ainda pode ser consertado.

Ainda há tempo para reflexão, ainda há tempo para uma análise de consciência.

Ainda há tempo para uma reencarnação desses ideais consumidos pelo tempo, desses ideais perdidos, mas que 197 anos atrás forjaram a ideia de um país livre e justo.

Forjaram a ideia de um pais sem desigualdades.

Forjaram a ideia de um Brasil grande.

Até agora praticamente em vão.

A poesia

12 de março de 2020

O brasileiro gosta tanto de poesia, mas gosta tanto, que tem dois dias para festeja-la.

Para o brasileiro tanto faz o 14 de março como o 31 de outubro. O 14 de março, no próximo sábado, é o dia da poesia em homenagem a Castro Alves, e no 31 de outubro a homenagem é para Carlos Drummond de Andrade, sem dúvida dois dos maiores poetas brasileiros.

A poesia é a música da alma, e sobretudo de almas grandes e sentimentais.

O poeta português Eugênio de Andrade diz que toda a poesia é luminosa, até a mais obscura. O leitor é que tem às vezes,

em lugar de sol, nevoeiro dentro de si e o nevoeiro nunca deixa ver claro.

Se regressar outra vez e outra vez e outra vez a essas sílabas acesas ficará cego de tanta claridade.

Abençoado seja se lá chegar.

A poesia, no dizer da espanhola Carmem Conde, é o sentimento que sobra ao coração e sai pela mão.

A poesia é a faca que corta,sem sentir dor…

é um tapa na cara sem saber quem bateu…

é uma reação sem agressão… é a vida sem morte…

é um prazer de um beijo para quem nunca beijou…

a poesia não precisa ser compreendida para ser

entendida..

É sentir saudade de alguém que nunca partiu… é enxergar sem ver..

Poesia é um homem no escuro que vem em direção a luz…

é esconder o que fala abertamente…

Para Pablo Neruda, a  poesia é um ato de paz. A paz entra dentro da composição de um poeta tal como a farinha entra na composição do pão.

A poesia é o desafio do não-dizer, a impossibilidade de dizer algo.

A matemática tem semelhança com esse estado de ser.

Em ambas há manifestação do divino, algo tão perfeito que transcende tudo.

A poesia é a alegria de se poder pensar, criar, e com sutileza transportar para o papel toda riqueza de detalhes do ontem, do hoje e do amanhã.

A poesia não é apenas um gênero literário, mas um olhar revelador de mistérios e uma sabedoria resgatadora da nossa profunda humanidade.

A poesia é um modo de ler o mundo e nele escrever um outro mundo.  

Segundo Mário Quintana, é isso que faz com que a diferença entre um poeta e um louco é que o poeta sabe que é louco porque a poesia é uma loucura lúcida.

Ou como diz Shakespeare, enquanto houver um louco, um poeta e um amante haverá sonho, amor e fantasia. E enquanto houver sonho, amor e fantasia, haverá esperança.

Vitórias e derrotas

11 de março de 2020

A vida – todos sabem – é feita de vitórias e de derrotas. Ás vezes mais vitórias do que derrotas, mas às vezes mais derrotas do que vitórias.

Na vida, todos perdem e todos ganham; uns ganham mais e perdem menos, outros perdem mais e ganham menos.

Nossas vitórias, nossos triunfos, nos elevam, nos orgulham, atraem mais e novos amigos;

As derrotas nos abatem, nos esmorecem e as vezes até nos envergonham.

Vitórias e derrotas são opostos que nos perseguem no dia a dia; ganhamos ou perdemos quando menos esperamos.

Vitórias e derrotas nos marcam, ás vezes para sempre.

Derrotas, muitas vezes, marcam na alma de forma profunda e dolorosa.

Por isso, tanto nas vitórias como nas derrotas, precisamos praticar o exercício da humildade.

Humildade é aquela capacidade que devemos ter de reconhecer nossos próprios erros, nossos defeitos e nossas limitações.

A humildade, a modéstia, a simplicidade são características poderosas que o ser humano pode ostentar.

Confúcio, um pensador e filósofo chinês que viveu antes de Cristo, já dizia que a humildade é a única base sólida de todas as virtudes, porque todas as outras qualidades dependem dela.

A humildade é, sem dúvida, uma regra a ser seguida.

Vencer não é sinônimo de acertar sempre; vencer é resultado da persistência, mesmo que em meio a derrotas devastadoras.

Por isso tenha humildade na hora das vitórias, mas também tenha humildade na hora das derrotas.

Assimile as vitórias, mas também assimile as derrotas.

Nas derrotas não devemos procurar culpados, devemos, sim, procurar identificar nossos erros e uma maneira de corrigi-los.

Assim, a vitória poderá sorrir logo em seguida.

Descarregar nos outros a culpa por uma derrota que é sua, nada mais é do que querer fugir à realidade dos fatos.

Lembre-se que na vida, as derrotas, assim como as vitórias, são passageiras.

A vida é feita de vitórias e derrotas, as vitórias nos consolam na hora da derrota, e com as derrotas aprendemos a vencer.

Não confunda derrota com fracasso nem vitórias com sucesso.

Na vida de um campeão sempre haverá algumas derrotas, assim como na vida de um perdedor sempre haverá vitórias. A diferença é que, enquanto os campeões crescem nas derrotas, os perdedores se acomodam nas vitórias.

Aprenda com o poeta que nos ensina que a força do amanhecer é que nos renova, mas é a poesia do anoitecer que nos fortalece.

Vencer é bom, é sempre muito bom, mas é na derrota que se cresce.

O voto obrigatório

10 de março de 2020

O Brasil é um país democrático. Pelo menos é o que entendemos e é assim que enxergamos o nosso país.

O Brasil é um país democrático porque sua constituição nos assegura o direito de ir e vir; o Brasil é um país democrático porque sua constituição nos garante a igualdade perante a lei, sem distinção de qualquer natureza.

O Brasil é um país democrático porque garante ao seu cidadão a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.

Mas ainda falta alguma coisa para que o Brasil seja realmente o país democrático que aspiramos. Falta o voto facultativo.

Não dá para entender um país que garanta a seus cidadãos o exercício da plena liberdade, obrigar a pessoa a votar.

Não existe país democrático no mundo que aplique multa ao seu eleitor que não comparece à urna em dia de eleição. A obrigatoriedade do voto não é coisa de regime democrático, pelo contrário.

Se democracia significa liberdade, a obrigatoriedade do voto representa um aleijão no nosso regime democrático. O voto tem que ser opcional.

Dos 236 países onde há eleição, apenas 31 deles – incluindo o Brasil – praticam o voto obrigatório.

Estamos fora do contexto das nações.

O voto é obrigatório no Brasil desde a constituição de 1824 e continuará sendo indefinidamente já que poucos têm se manifestado a respeito.

O Brasil precisa definir urgentemente se na sua democracia o voto é uma obrigação ou um dever.

O voto tem que ser, antes de tudo, um dever do cidadão, nunca uma obrigação.

Os que defendem o fim da obrigatoriedade do voto entendem que o voto facultativo melhora a qualidade do pleito eleitoral pela participação de eleitores conscientes e motivados.

É  inteiramente equivocado, chega a ser uma verdadeira ilusão, acreditar que o voto obrigatório possa gerar cidadãos politicamente evoluídos. Se assim o fosse, já teríamos os eleitores mais esclarecidos da face terra.

O que vai garantir mais qualidade ao voto é exatamente a liberdade que está faltando ao eleitor.

Com liberdade para o eleitor participar ou não do pleito, os políticos necessariamente terão que mudar o comportamento. O comparecimento às urnas passa a ser uma responsabilidade do candidato, que terá sob seus ombros a obrigação de apresentar propostas que despertem realmente a atenção do eleitor.

O fim do voto obrigatório certamente tornará o eleitor mais exigente e o candidato necessariamente mais eficiente.

O Dia da mulher

9 de março de 2020

8 de março é o Dia da Mulher. Este ano comemorado no último domingo.

Nesse tempo todo Já escrevi várias vezes sobre a mulher, um tema inesgotável.

Lembro que certa vez perguntei o que seria o  mundo sem a mulher.

Você, em algum momento de sua vida, já imaginou o mundo sem a figura da mulher?

Certamente que não, afinal se a vida já é difícil com elas por perto, imaginem sozinho.

Criado pela ONU em 1908, o Dia da Mulher é a celebração das conquistas sociais, políticas e econômicas das mulheres ao longo dos anos.

A mulher, inicialmente considerada como um elemento secundário, passou a ser algo extremamente importante na sociedade atual, onde ela exerce cada vez mais um papel de protagonista, embora ainda sofra com as heranças históricas do sistema social patriarcal.

A mulher moderna conquistou seu espaço com muita luta e hoje é uma figura importantíssima nessa locomotiva chamada mundo.

A mulher brasileira, que somente em

1932 conquistou o direito ao voto, é uma guerreira valente, que ano a ano, década após década, consegue novas conquistas.

Mas, apesar das muitas mudanças comportamentais da sociedade, temos que reconhecer que ainda prevalece costumes machistas e discriminatórios.

A tão sonhada igualdade de direitos, infelizmente, nem sempre é realidade.

A mulher convive hoje com uma violência sem fim, graças, muitas vezes, ao sentimento de posse manifestado pelo homem.

A mulher não é propriedade de ninguém. A mulher tem que ser sua única dona.

Não à toa, Renato Russo já cantava:

Sou fera, sou bicho, sou anjo e sou mulher

Sou minha mãe e minha filha, minha irmã, minha menina

Mas sou minha, só minha e não de quem quiser.

Tempo moderno exige isso.

Exige a convivência harmoniosa entre homens e mulheres, sem qualquer sentimento de posse, sem qualquer sentimento de propriedade.

A mulher tem que ser respeitada pelo que é, não pelo que você imagina que seja.

A mulher é credora desse respeito que lhe devemos.

Seus direitos são seus, inclusive o de ser uma eterna fonte de inspiração; de ser a musa dos poetas, dos românticos e dos ébrios apaixonados que vagam pelas noites em busca de um consolo.

A mulher forte dos tempos modernos tem que conservar esse sua lado suave e delicado.

Ser mulher – como escreveu o poeta – é viver mil vezes em apenas uma vida.

É lutar por causas perdidas e sair vencedora.

É estar antes do ontem e depois do amanhã

É desconhecer a palavra recompensa apesar dos seus atos.

Ser mulher é caminhar na dúvida cheia de certezas.

É correr atrás de nuvens num dia de sol

É alcançar o sol num dia de chuva.

Ser mulher é chorar de alegria e muitas vezes sorrir com tristeza

É acreditar quando ninguém mais acredita

É esperar quando ninguém mais espera.

Parabéns às nossas mulheres.

As companhias

6 de março de 2020

Marcel Camargo, mestre em História pela Unicamp de São Paulo, considera imprescindível saber quais companhias nos fazem bem. 

Passaremos – diz ele –  por vários encontros ao longo de nossa jornada e conheceremos o mais variado tipo de pessoas.

Algumas delas nos enriquecerão, outras nos diminuirão e ainda haverá um tanto delas que passarão em branco.

Precisamos saber quais companhias serão imprescindíveis ao nosso caminhar com ares tranquilos e quais pessoas deverão sair de nossas vidas o quanto antes para nos poupar consideráveis tempestades inúteis.

Mantenha por perto quem tem sempre uma palavra de força e de motivação, quem não duvida de seus potenciais, quem acredita em você, no que você pode, em tudo de que você seja capaz.

Escute as pessoas que realmente o amam, que realmente querem o seu bem, que sorriem com verdade, sem forçar nada, sem ser chamado. Escutem aquelas pessoas que nunca se sentem obrigadas a estar junto da gente.

Afaste-se de quem sempre parece duvidar de que algo bom possa vir a acontecer com você, quem pinta o seu futuro com cores tortas, quem lota de nuvens os seus sonhos de vida.

Não dê ouvidos a desmotivações e negatividades de quem só chega perto para dar rasteiras, para desacreditar de qualquer coisa em você que implique ser feliz.

Não deixe que seu sorriso se desmanche por conta de palavras vindas de gente chata e pessimista.

Aproxime-se das pessoas que brilham sem ofuscar ninguém, que alcançam sonhos sem precisar destruir o outro, sem falsidade, sem derrubar quem lhe atravesse o caminho.

Ouça quem divide luz, compartilha sabedoria, multiplica conhecimento, espalha amor.

Ouça quem subiu por conta própria, pelos próprios méritos, quem nunca deixa de ser quem de fato é onde quer que esteja, seja com quem estiver.

Fique longe dos indivíduos que não conseguem obter nada sem derrubar o outro, sem maldizer quem faz sucesso, sem invejar quem possui competência e felicidade de sobra.

Fique bem longe de quem só sabe falar mal de quem não está presente, de quem só critica, só se sente injustiçado, só sabe querer o que não tem. Esse tipo de gente não pensa duas vezes antes de passar por cima de quem sua mente doentia achar que é melhor, que é mais feliz, que não merecia tudo o que tem.

Inevitavelmente, iremos amargar muitas decepções com pessoas em quem depositávamos afeição sincera, seremos alvo da maldade de quem nem nos conhece direito, seremos desencorajados de nossos sonhos por quem não acredita na força do amor, porque nem todo mundo terá a decência de se colocar no nosso lugar ou de se calar quando o momento assim o pedir.

Dar as mãos aos verdadeiros amigos, às pessoas que realmente nos amam e acreditam em nós é o que nos manterá firmes no caminho que traçaremos rumo à felicidade de que somos merecedores.

Porque todos nós somos merecedores.

O tempo espera uma resposta

5 de março de 2020

Vivemos num país onde nada é para sempre.

Moramos num país onde até mesmo a pior tragédia resulta numa indignação temporária, com dia e hora para acabar.

Vivemos num país onde o pior dos escândalos só dura até o próximo escândalo. Aconteceu um novo escândalo, sepulta-se de forma definitiva o escândalo anterior. E assim a vida segue.

Vivemos num país onde não se cultiva a memória, não se cultiva ou não se dar o devido respeito ao passado; no Brasil não trabalhamos para evitar novas tragédias, quando muito torcemos para que elas demorem um pouco mais.

Vamos de uma forma muito rápida do auge do clamor por justiça a um inexplicável bocejar inofensivo de fim de tarde.

Vamos de um capeta ensandecido a um bondoso samaritano em tão curto espaço de tempo que às vezes nem percebemos.

Protestamos hoje contra a violência, mas amanhã já estamos bradando é contra o time do coração, por um jogo perdido.

Criticamos hoje os políticos ruins, mas amanhã é outro dia. Quem sabe.

Bradamos hoje contra a corrupção, mas amanhã não lembramos mais. Amanhã é outro dia, portanto vamos cobrar um ponto facultativo para a véspera do feriado que se aproxima.

Cobramos moralidade pública, mas queremos saber mesmo é das orgias e escândalos promovidos por artistas famosos.

O brasileiro é assim. É assim sem tirar nem por.

O brasileiro é uma pessoa sem causa definitiva, que age ao sabor do vento.

O brasileiro, infelizmente, é uma espécie de ativista dos dias úteis, até mesmo porque ninguém é ferro e domingo é para descansar. Está na Bíblia que Deus descansou no sétimo dia. E se Deus descansou, logo também temos esse direito.

Não se muda um país assim.

Agindo assim não se muda coisa alguma, não se muda nada.

Estamos longe de ter uma consciência coletiva que nos leve a lutar de forma determinada por um país melhor, não apenas por um eu melhor.

Temos que deixar esse ativismo de fancaria de lado e empreender a luta que realmente interessa. Temos que empreender a luta por um Brasil realmente melhor, se é que realmente pensamos num Brasil melhor e se realmente queremos um Brasil melhor.

Às vezes – e não são poucas essas vezes – nos questionamos se há no Brasil alguém que realmente queira um país melhor.

O Brasil tem que ser um país melhor ou tem que continuar um país de mulatas, um país de samba e de futebol?

O Brasil tem que se transformar num país de políticos sérios ou é preferível continuar com um elenco que garanta trabalho aos humoristas nacionais?

O tempo que passa espera uma resposta.

(Do livro Opinião Com Chico Leal)

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