Hoje é o dia de São Judas Tadeu.
Judas foi um dos 12 apóstolos. Era filho de um irmão de José, pai de Jesus. Judas, portanto, era primo de Jesus. Além de primo de Jesus, era irmão de Tiago, outro apóstolo.
Nascido em Caná, local do primeiro milagre de Jesus, Judas Tadeu foi um dos mais fervorosos defensores da palavra de Cristo. Morreu decapitado por defender a sua fé.
Não à toa se transformou num dos santos mais populares da igreja.
São Judas Tadeu é sempre chamado para socorrer as pessoas nos mais desesperados dilemas. É considerado o advogado das causas impossíveis e dos supremos momentos de angústia.
São Judas Tadeu, sem dúvida, é o santo apropriado para a devoção dos piauienses. Afinal, são tantas as nossas angústias e o que não nos falta são causas perdidas e impossíveis.
“São Judas Tadeu, apóstolo escolhido por Cristo, eu vos saúdo e louvo pela fidelidade e amor com que cumpristes vossa missão.
Chamado e enviado por Jesus, sois uma das doze colunas que sustentam a verdadeira Igreja fundada por Cristo. Inúmeras pessoas, imitando vosso exemplo e auxiliadas por vossa oração, encontram o caminho para o Pai, abrem o coração aos irmãos, se descobrem forças para vencer o pecado e superar todo o mal.
Quero imitar-vos, comprometendo-me com Cristo e com sua Igreja, por uma decidida conversão a Deus e ao próximo, especialmente o mais pobre. E, assim convertido, assumirei a missão de viver e anunciar o Evangelho, como membro ativo de minha comunidade.
Espero, então, alcançar de Deus a graça que imploro para todos nós piauienses, confiando na vossa poderosa intercessão.
São Judas Tadeu intercedei pelo Piauí.
Retire, ó glorioso santo, da relação de causas perdidas e impossíveis a conclusão de nossas obras inacabadas e interceda pela geração de empregos para atender a nossos milhares de desempregados que passam graves necessidades diante da indiferença de muitos.
São Judas Tadeu interceda pelas obras de alargamento de nossas BRs e livra-nos do caos no trânsito que tanto mata.
Intercedei pelo porto de Luís Correia, pela Transnordestina, pelo Centro de Convenções, pela Transcerrados e pela fruticultura.
Intercedei, ó glorioso São Judas Tadeu, pela nossa industrialização tão incipiente; intercedei pela nossa calamitosa segurança pública.
Colocai entre suas prioridades, São Judas, a educação e a saúde dos piauienses.
Intercedei, ó santo primo de Jesus, pelos nossos pobres humilhados pela esmola oficial que não engrandece o ser humano, apenas vicia.
Por fim, tenha piedade de todo nós.
Amém!
O passar dos anos é inevitável, mas envelhecer é opcional.
Ninguém pode deter isto, nem a ciência, nem a medicina e nem o melhor creme antirrugas.
A velhice chega com calma e serenidade, como o sol do entardecer que nos acaricia morno e sem que nos demos conta.
Envelhecer – ensina-nos o franco-argelino e vencedor do Nobel de Literatura Albert Camus – é o único meio de viver muito tempo.
A idade madura é aquela na qual ainda se é jovem, porém com muito mais esforço.
O que mais nos atormenta em relação às tolices da juventude, não é havê-las cometido… é sim não poder voltar a cometê-las.
Envelhecer é passar da paixão para a compaixão.
Muitas pessoas não chegam aos oitenta porque perdem muito tempo tentando ficar nos quarenta.
Aos vinte anos reina o desejo, aos trinta reina a razão, aos quarenta o juízo.
O que não é belo aos vinte, forte aos trinta, rico aos quarenta, nem sábio aos cinquenta, nunca será nem belo, nem forte, nem rico, nem sábio…
Quando se passa dos sessenta, são poucas as coisas que nos parecem absurdas.
Os jovens pensam que os velhos são bobos; os velhos sabem que os jovens o são.
A maturidade do homem é voltar a encontrar a serenidade como aquela que se usufruía quando se era menino.
Nada passa mais depressa que os anos.
Quando era jovem dizia:
– Verás quando tiver cinqüenta anos.
Tenho cinqüenta anos e não estou vendo nada.
Nos olhos dos jovens arde a chama, nos olhos dos velhos brilha a luz.
A iniciativa da juventude vale tanto quanto a experiência dos velhos.
Afinal, sempre há um menino em todos os homens.
A cada idade lhe cai bem uma conduta diferente.
Os jovens andam em grupo, os adultos em pares e os velhos andam sós.
Feliz é quem foi jovem em sua juventude e feliz é quem foi sábio em sua velhice.
Todos nós desejamos chegar à velhice e todos nós negamos que tenhamos chegado.
Não entendo isso dos anos: que, todavia, é bom vivê-los, mas não tê-los.”
O corpo envelhece sem a sua permissão, mas a alma só envelhece se você permitir.
Como diz o poeta português Fernando Pessoa,
Não importa se a estação do ano muda…
Se o século vira, se o milénio é outro.
Se a idade aumenta…
Conserva a vontade de viver,
Não se chega a parte alguma sem ela.
É óbvio que todos nós buscamos a felicidade.
Queremos e buscamos a felicidade sempre.
A felicidade é uma meta, é um objetivo a ser alcançado.
Mas, afinal, o que é felicidade?
Mesmo os que diariamente buscam e sonham com uma felicidade eterna, sabem o que é felicidade?
Aílton Bahia, um pensador que costuma publicar seus textos nas redes sociais, diz que não existem receitas de felicidade.
Mas há algo que se repete na vida dos que se sentem felizes: eles são íntimos de si mesmos; eles conhecem os próprios anseios e são fiéis a eles.
Vivemos desesperadamente buscando descobrir o segredo da felicidade, mas nem sequer sabemos o seu verdadeiro significado.
Há milhões de anos a humanidade busca a felicidade em vários lugares.
Muitos homens e mulheres, durante toda a sua existência buscam a felicidade através do poder e se tornam ditadores e arrogantes, acabam escravos do próprio poder e se tornam solitários e deprimidos. Outros buscam a felicidade através da fama e estrelato; acabam sufocados pelo próprio sucesso e vivem se escondendo do mundo atrás de drogas e medicamentos.
Outros usam seus status sociais e autoridade e se impõem a humilhar seu semelhante; se consideram seres supremos e intocáveis,
Acabam se tornando seres odiados e insignificantes sem nenhum respeito ou prestígio perante a sociedade.
Felicidade é algo complexo e inexplicável, que depende de cada um de nós.
Temos que encontrá-la dentro de nós mesmos, dentro da realidade de cada um, dentro de seu mundo real.
Felicidade, muitas vezes, é fazer o bem.
Sempre nos sentimos bem quando conseguimos ajudar alguém, quando conseguimos transformar uma lágrima em sorriso, quando somos abraçados e beijados por pessoas que nem sequer conhecemos, simplesmente porque demonstramos um gesto de carinho e atenção para com elas.
Ser feliz, muitas vezes, é quando percebemos que somos admirados e respeitados.
São coisas simples, simples até demais.
São coisas que podem até não ser a felicidade, mas com certeza é algo muito perto disso;
É algo que está ao alcance de todos.
Se não sentimos essas coisas em nenhum momento da vida é porque algo está errado.
A felicidade está em coisas simples da vida.
Está em cada pedacinho de chão conquistado, em levantar a cada tropeço, em amar as pessoas e não julgar pelo que aparenta ser.
Ser feliz transcende qualquer entendimento, mas é possível com muita sabedoria no dia-a-dia. Acreditar nos sonhos que possuímos é fundamental.
A felicidade, enfim, está originalmente em crer.
Crer que tudo é possível.
José Roberto Guzzo trabalha na revista Veja desde a sua fundação, ainda no final dos anos 60. Trabalhava, melhor dizendo. Ele foi demitido depois da revista se recusar a publicar seu último artigo, que apresento agora para conhecimento dos nossos ouvintes.
“Um dos grandes amigos do Brasil e dos brasileiros de hoje é o calendário. Só ele, e mais nenhum outro instrumento à disposição da República, pode resolver um problema que jamais deveria ter se transformado em problema, pois sua função é justamente resolver problemas – o Supremo Tribunal Federal.
O STF deu um cavalo de pau nos seus deveres e, com isso, conseguiu promover a si próprio à condição de calamidade pública, como essas que são trazidas por enchentes, vendavais ou terremotos.
Aberrações malignas da natureza, como todo mundo sabe, podem ser resolvidas pela ação do Corpo de Bombeiros e demais serviços de salvamento. Mas o STF é outro bicho. Ali a chuva não para de cair, o vento não para de soprar e a terra não para de tremer – não enquanto os indivíduos que fabricam essas desgraças continuarem em ação.
Eles são os onze ministros que formam a nossa “corte suprema”, e não podem ser demitidos nunca de seus cargos, nem que matem, fritem e comam a própria mãe no plenário. Só há uma maneira da população se livrar legalmente deles: esperar que completem 75 anos de idade. Aí, em compensação, não podem ser salvos nem por seus próprios decretos. Têm de ir embora, no ato, e não podem voltar nunca mais. Glória a Deus.
Demora? Demora, sem dúvida, e muita coisa realmente ruim pode acontecer enquanto o tempo não passa, mas há duas considerações básicas a se fazer antes de abandonar a alma ao desespero a cada vez que se reúne a apavorante “Segunda Turma” do STF – o símbolo, hoje, da maioria de ministros que transformou o Supremo, possivelmente, no pior tribunal superior em funcionamento em todo o mundo civilizado e em toda a nossa história.
A primeira consideração é que não se pode eliminar o STF sem um golpe de Estado, e isso não é uma opção válida dos pontos de vista político, moral ou prático. A segunda é que o calendário não para. Anda na base das 24 horas a cada dia e dos 365 dias a cada ano, é verdade, mas não há força neste mundo capaz de impedir que ele continue a andar. Levará embora para sempre, um dia, Gilmar Mendes, Antônio Toffoli, Ricardo Lewandovski. Antes deles, já em novembro do ano que vem e em julho de 2021, irão para casa Celso Mello e Marco Aurélio; será a maior contribuição que terão dado ao país.
E assim, um por um, todos irão embora – os bons, os ruins e os horríveis.
Faz diferença, é claro. Só os dois que irão para a rua a curto prazo já ajudam a mudar o equilíbrio aritmético entre o pouco de bom e o muitíssimo de ruim que existe hoje no tribunal.
Como é praticamente impossível que sejam nomeados dois ministros piores do que eles, o resultado é uma soma no polo positivo e uma subtração no polo negativo – o que vai acabar influindo na formação da maioria nas votações em plenário e nas “turmas”.
Com mais algum tempo, em maio de 2023, o Brasil se livra de Lewandovski. A menos que o presidente da época seja Lula, ou coisa parecida, o ministro a ser nomeado para seu lugar tende a ser o seu exato contrário – e o STF, enfim, estará com uma cara bem diferente da que tem hoje.
O fato, em suma, é que o calendário não perdoa.
O ministro Gilmar Mendes pode, por exemplo, proibir que o filho do presidente da República seja investigado criminalmente, ou que provas ilegais, obtidas através da prática de crime, sejam válidas numa corte de justiça. Mas não pode obrigar ninguém a fazer aniversário por ele.
Gilmar e os seus colegas podem rasgar a Constituição todos os dias, mas não podem fugir da velhice.
O Brasil que vem aí à frente, por esse único fato, será um país melhor. Se você tem menos de 25 ou 30 anos de idade, pode ter certeza de que vai viver numa sociedade com outro conceito do que é justiça. Não estará sujeito, como acontece hoje, à ditadura de um STF que inventa leis, censura órgãos de imprensa e assina despachos em favor de seus próprios membros.
Se tiver mais do que isso, ainda pode pegar um bom período longe do pesadelo de insegurança, desordem e injustiça que existe hoje. Só não há jeito, mesmo, para quem já está na sala de espera da vida, aguardando a chamada para o último voo. Para estes, paciência.
Para a maioria, a vitória virá com a passagem do tempo”.
Estamos muito mal na fita.
Aliás, continuamos muito mal na fita.
A cada levantamento divulgado pelo IBGE percebemos claramente que o Piauí não consegue avançar. Sorte nossa que temos o vizinho Maranhão a nos garantir cobertura quando o assunto é miséria.
A imprensa mais otimista festeja quando conseguimos feitos que para muitos parecem crescimento, parecem desenvolvimento.
O Piauí, por exemplo, é o segundo estado brasileiro com a segunda menor média real por trabalhador.
Aqui, o trabalhador ganha em média 1.425 reais, o que corresponde a 64% do valor do rendimento médio real no Brasil.
O Piauí é também o segundo estado brasileiro em número de domicílios que recebem o Bolsa Família.
De acordo com os números, 33,8% das nossas casas recebiam o auxilio do governo federal.
Os números do Piauí, mais uma vez, só são ultrapassados na pesquisa pelo Maranhão, onde 37,4% dos domicílios recebem Bolsa Família.
Convém lembrar que para ter direito ao Bolsa Família a residência precisa ter uma renda por pessoa de no máximo 85 reais mensais.
É triste isso.
Triste e revelador.
O piauiense vive na miséria e sem qualquer perspectiva de melhorar de vida; vive na miséria e sem horizonte, sem futuro.
Um velho provérbio chinês ensina que não devemos simplesmente dar o peixe.
O Bolsa Família surgiu exatamente dentro desse contexto de que não devemos simplesmante dar o peixe. Temos que dar o peixe sim, mas também temos que ensinar a pescar.
A ajuda emergencial tem que existir. E essa ajuda emergerncial é exatamente o peixe que se dar.
O peixe é o primeiro alimento, o alimento que impede a desnutrição e a morte.
Mas o primeiro alimento, o primeiro peixe, não pode ser para sempre, não pode ser eterno.
Ao se transformar numa ajuda eterna, o beneficiário do Bolsa Familia jamais irá procurar o caminho do rio para aprender pescar.
Nesses casos, o beneficiário do Bolsa Familia se transforma em parasita; se transforma num ser humano dominado pelo ócio.
O interior do Piauí é cheio desses exemplos.
Alguns fingem que não estão vendo, mas apenas fingem.
O beneficiário do Bolsa Familia transforma-se da noite para o dia numa espécie de desocupado oficial, que simplesmente recebe uma mesada apenas para garantir o voto a determinadas correntes da politica brasileira.
O governo – qualquer que seja ele – tem a obrigação de ajudar os pobres.
É uma obrigação constitucional, até.
Ninguém quer pobre morrendo de fome.
Ao contrário, o que todos querem é que o pobre brasileiro viva com dignidade.
O que todos nós queremos é que o trabalhador brasileiro deixe de viver de forma humilhante e passe a ganhar com o suor do seu rosto o pão de cada dia.
Mas o brasileiro, infelizmente, gostou tanto do peixe que recebe de graça e sem esforço, que não se atreve a lançar seu próprio anzol ao rio em busca de algo melhor.
O tempo é mesmo o senhor da razão.
Bastou um pouco de tempo para se perceber que suplente não faz falta.
A Assembleia Legislativa do Piauí é um exemplo disso.
Pelo alvoroço provocado por alguns suplentes desalojados pelos titulares do mandato imaginou-se que o Legislativo iria parar, iria até fechar as portas.
Um mês e pouco depois se percebe que nada disso aconteceu. Quem acompanha os trabalhos legislativos percebe claramente que tudo está funcionando normalmente. As comissões funcionam, o plenário funciona e a administração do poder funciona.
A saída dos suplentes não causou nenhum dano à ordem de funcionamento das coisas. Apenas provocou um imenso alívio aos cofres públicos que deixou de pagar o salário e as mordomias de tanta gente.
Mais uma verdade:
Por mais que se procure não se consegue encontrar uma única proposta de suplente que tenha modificado alguma coisa no estado. Como também, por dever de justiça, não encontramos nenhuma ação de secretário com mandato de deputado capaz de transformar alguma coisa.
Provado está que assim como a Assembleia Legislativa não precisa de suplentes para funcionar, o governo também não precisa de deputados ocupando suas secretarias para poder andar.
É preciso que se altere a lei que trata de convocação de parlamentares para o Executivo, para assim frear também a convocação de suplentes de deputados estaduais.
Convocação de deputados não pode atender apenas conveniências políticas; não pode servir apenas para garantir votos nas eleições seguintes às custas do dinheiro público. Tem que existir um motivo relevante.
O deputado tem que cumprir seu papel de deputado, porque foi para isso que foi eleito. O suplente tem que se convencer que não teve votos para ser deputado. O eleitor não o quis deputado.
Como diz a sabedoria popular, tem que ser mesmo cada macaco no seu galho. Isso significa que deputado é deputado e suplente é suplente. Adotado este sistema, com certeza todos nós andaremos de forma mais segura.
Um estado quebrado, praticamente falido como o nosso, não pode se dar ao luxo de ter 15 suplentes de deputados estaduais pendurados em mandatos que não lhes pertencem. Desta fase deve se tirar lições, apenas lições, nada mais.
E o governo deve compreender que para resolver os problemas do Piauí não basta puxar a corda dos suplentes para garantir apoio político ou para empregar amigos.
O Piauí precisa de coisas bem diferentes.
O Piauí precisa de vontade política.
O Piauí precisa de bom senso.
O Piauí precisa de projetos que realmente nos levem para a frente.
O Piauí precisa de eficiência administrativa.
O Piauí precisa de competência gerencial
O Piauí precisa de ação.
Produtos que, pelo visto, estão em falta no mercado.
Piauí, a querida terra filha do sol do equador…
Ou seria a triste terra filha do sol do equador?
Ao longo dos anos sempre tratamos o Dia do Piauí como uma data muito especial e fazemos isso porque consideramos tratar-se realmente de uma data muito especial para todos nós.
Infelizmente não temos é o que comemorar.
Por mais otimista que se possa ser, definitivamente não temos o que comemorar há muito tempo.
O Piauí parou no tempo.
Não só parou. O Piauí fechou seu horizonte e com ele fechou o seu futuro.
Recuamos, chegamos a retroceder em várias questões e não temos mais perspectivas de futuro grandioso.
O governo não só acabou com a nossa autoestima, quebrou o estado. Não quebrou o estado apenas economicamente, quebrou também aquele sonho que alimentamos ao longo da vida de que um dia as coisas iriam melhorar.
Como num jogo de pôquer perdemos tudo quando um dia resolvemos dobrar nossas apostas. Ignoramos o nosso próprio bom senso, fizemos uma aposta errada e perdemos.
Agora é tarde.
É chorar o leite derramado e rezar à espera de um milagre divino.
O Piauí já foi um forte candidato a paraíso.
Chegamos a acreditar que o desenvolvimento estava logo ali na esquina, era só uma questão de estender a mão.
Chegamos a acreditar no éden de São João do Piauí, distribuindo frutas para todo o mundo.
Acreditamos no porto de Luiz Correia; chegamos a acreditar no trem dos cerrados cheio de grãos para a China; acreditamos até no trem do minério que deveria levar nosso ferro, nosso níquel e nosso ouro para gerar riquezas em estados vizinhos. Chegamos a acreditar que a velha rural usada nas retóricas governamental era coisa do passado.
Chegamos a acreditar na propaganda mágica do É feliz quem vive aqui.
Todos nós sonhamos com isso.
A decepção é grande.
Acabaram com o Piauí e com os nossos sonhos.
Tiraram-nos até mesmo o direito de sonhar.
Em 2017, exatamente no Dia do Piauí, disse aqui e reafirmo agora, que o piauiense, em sua maioria, é um homem puro.
É um homem tão puro que ainda acredita no próprio homem e talvez por isso esteja pagando um preço muito alto.
Viver do passado distante talvez seja realmente coisa de museu, como dizem.
Mas à falta de um presente melhor ou de um futuro radioso, só nos resta o consolo do passado.
Só nos resta comemorar o fato de que ainda temos as serras azuis cantadas em prosa e verso pelo
nosso poeta maior, Da Costa e Silva, embora elas fiquem no Maranhão.
Um velho ditado português diz que quem vive no inferno acostuma-se com o diabo.
Será mesmo verdade?
O ditado português, muito usado no mundo, principalmente no Brasil, tem lá suas implicações.
Quando se coloca o inferno no centro das coisas, entende-se que o inferno é o que vivemos hoje, aqui na terra mesmo e o diabo somos todos nós.
Na ótica portuguesa nós, pobres mortais, chegamos ao inferno e acabamos por gostar de lá.
Naturalmente que não é um amor à primeira vista. É uma coisa que vai acontecendo aos poucos, bem devagarinho.
Uma reclamação aqui outra reclamação ali e nenhuma providência.
Aí o tempo vai passando, passando… uma nova reclamação ali outra acolá e nada de providência.
Nesse andar vagaroso acabamos por nos acostumar.
E quando nos acostumamos perdemos a vontade de lutar, perdemos a vontade de nos libertar.
E quando se perde a vontade de lutar, é o fim.
Quando se perde a vontade de lutar ficamos com a visão turva, distorcida. Perdemos a identidade e passamos a considerar normal tudo o que acontece em nossa volta.
Até mesmo os maiores absurdos são considerados normais.
Como dizia Mário Lago, quando o homem perder a esperança, pode apagar o arco-íris.
Acostumar-se com o inferno e com o diabo representa na sabedoria portuguesa aquela situação em que se joga a toalha.
No Boxe, por exemplo, quando o treinador joga a toalha sinaliza que seu atleta está desistindo de continuar a luta.
No Piauí muitos fizeram isso.
Aliás, no Piauí, a luta acabou bem mais cedo.
Muitos desistiram antes mesmo do soar do gongo.
Antes de soar o gongo jogamos a toalha; sequer esperamos por um último suspiro; não esperamos nem mesmo por aquele último suspiro que encerra a vida.
Fugimos do ringue bem antes disso.
Aceitamos a derrota. Ou melhor, aceitamos a supremacia do diabo do ditado português.
E com isso passamos a considerar que o inferno é o melhor dos lugares. Passamos a achar o inferno uma maravilha.
Mesmo sabendo que o inferno não representa nenhuma maravilha.
O inferno nada mais é do que a covardia de quem se recusou a lutar.
Nada mais é do que a covardia de quem recuou antes do soar do gongo, covardia de quem não quis prosseguir lutando.
Como bem diz o sábio, covarde é aquele que não tenta.
Covarde é aquele que não se esforça por um mundo melhor.