Alguém já disse que democracia é bom, mas no quintal dos outros, não no seu.
Millor Fernandes diz que democracia é quando eu mando em você, ditadura é quando você manda em mim.
Também já disseram que ninguém pretende que a democracia seja perfeita ou sem defeito. Tem-se dito que a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos.
O que mata a democracia, pelo menos no Brasil, é o costume político, ou seriam os próprios políticos?
Democracia significa também transparência.
Não existe um regime democrático verdadeiro sem que haja transparência nos atos e nos gastos públicos.
Os políticos sabem disso. Tanto sabem que a cada eleição prometem mais transparência ao país. E como prometem.
Mas, como também se diz por aí, promessa é uma coisa, pagar são outros quinhentos.
Lembro a propósito, a posse do senador David Alcolumbre, um ilustre desconhecido que derrotou ninguém menos que Renan Calheiro, o astuto parlamentar das Alagoas.
Ao assumir a presidência do Senado, em 2 de fevereiro deste ano, Alcolumbre prometia o fim do segredismo na Casa. Prometia a democratização do processo legislativo. Enfim, prometia transparência.
Davi Alcolumbre, como muitos outros preferiu esquecer o que prometeu de público.
Davi Alcolumbre, ao contrário do que prometeu, luta tenazmente na justiça para impedir a divulgação de notas fiscais que comprovariam gastos de senadores com a cota parlamentar.
Na verdade, Alcolumbre não quer que seus gastos sejam divulgados, por isso colocou todos os colegas no mesmo barco. Age em defesa do mesmo segredismo que prometeu acabar ao tomar posse.
A democracia é baseada no poder do povo e sua legitimidade se dá quando o indivíduo tem amplo acesso às informações da Administração Pública. Direito este previsto no artigo 5º da Constituição Federal Brasileira.
Pena que no Senado Federal, que deveria dar o exemplo para o restante da Nação, seu presidente não pense assim.
Dar o exemplo não é a melhor maneira de influenciar os outros. É a única.
Como diz o poeta Augusto Banco, seja o exemplo de tuas palavras e haverá um momento em que não precisarás dizer nada sobre coisa alguma. Tuas atitudes falarão por ti!
O povo brasileiro tem o direito de saber como é gasto o dinheiro que paga em impostos. O povo precisa saber o que os senadores fazem com esse dinheiro da cota parlamentar, que também é público.
O povo quer e tem o direito de saber.
Até mesmo porque democracia não pode existir só no quintal do vizinho.
O Congresso Nacional aprovou na semana passada, de maneira veloz, muito rápida mesmo, a lei de abuso de autoridade.
É mais uma lei num pais de tantas leis.
E quando o seu Congresso resolve trabalhar apressadamente, o brasileiro fica logo preocupado, imaginando quais os interesses reais de seus representantes com tanto esforço.
É evidente que o abuso não pode e nem deve ser tolerado em qualquer situação, independentemente de classes.
Abuso é abuso, tanto entre ricos como no meio dos pobres. E em nenhuma das situações deve ou pode ser tolerado.
O abuso de autoridade tem que ser combatido, desde que se trate realmente de abuso. Não se pode impedir dentro deste contexto, é o trabalho de quem tem a obrigação de combater crimes, inclusive os crimes de corrupção praticados por muitos desses diligentes congressistas.
O problema da lei aprovada pelo Congresso Nacional é outro bem diferente.
Alguns juristas acham que o Congresso, ao aprovar a lei do abuso de autoridade, nem de longe pensa em proteger o bem comum. Pensa apenas e tão somente em proteger seus próprios membros, integrantes do que se considera como elite da política administrativa nacional.
Outros dizem que o texto aprovado não representa a lei que a sociedade brasileira esperava. Ela nada mais é do que a resposta da bancada da impunidade à Lava Jato.
Mas há questionamentos quanto à conduta de muitos dos que ajudaram aprovar a nova lei. Não há problema em uma lei de abuso de autoridade, dizem, desde que essa lei não seja feita pelos investigados e acusados da Lava Jato. No mínimo estamos deixando a raposa livre para ditar normas no galinheiro onde pretende comer as galinhas sem ser perturbada.
Mas por que estamos surpresos? Afinal no Brasil é assim mesmo.
Só a justiça brasileira anula processos de corrupção que contenham informações dos órgãos que acompanham movimentações financeiras;
Onde, se não no Brasil, um ministro proíbe que os membros da mais alta corte de justiça sejam investigados? Aliás, não só os senhores ministros, mas também suas excelsas esposas.
A expectativa agora fica por conta do comportamento do presidente Bolsonaro.
Bolsonaro pode sancionar a nova lei, mas também poderá vetá-la.
Mas, se vetar, a bancada do Centrão já avisou que vai derrubar o veto presidencial.
Estamos diante de uma situação sem saída. Aqui se aplica bem aquele dito popular de que se correr o bicho pega, se fica o bicho come.
No Brasil daqui para frente quem se atrever a investigar corrupto terá uma boa chance de ir parar na cadeia, exatamente no lugar do investigado.
Diante de uma situação como essa não tenha dúvida de que o policial vai optar por cruzar os braços, salvo, evidentemente algumas exceções.
Rezar é o que nos resta.
A vida, já disse alguém, é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos.
Como escreveu o poeta,
É bela a vida com paz
que se perde no tempo
das flores sem sentido.
Aquele tempo perdido
onde vivem os sonhos
quentes de vidas nuas.
Charles Chaplin, o grande mago da época do cinema mudo, escreveu certa vez que todos nós desejamos ajudar uns aos outros.
Os seres humanos são assim.
Desejamos viver para a felicidade do próximo – não para o seu infortúnio.
Por que havemos de odiar e desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover a todas as nossas necessidades.
O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos.
A cobiça envenenou a alma dos homens, levantou no mundo as muralhas do ódio e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios.
Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria.
Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos;
Nossa inteligência, empedernidos e cruéis.
Pensamos em demasia e sentimos bem pouco.
Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade.
Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura.
Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.
A aviação e o rádio nos aproximaram. A própria natureza dessas coisas é um apelo eloqüente à bondade do homem, um apelo à fraternidade universal, a união de todos nós.
Neste mesmo instante a minha voz chega a milhares de pessoas pelo mundo afora. Milhões de desesperados: homens, mulheres, criancinhas, vítimas de um sistema que tortura seres humanos e encarcera inocentes.
Aos que podem me ouvir eu digo: não desespereis! A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que o produto da cobiça em agonia, da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano.
Os homens que odeiam desaparecerão, os ditadores sucumbem e o poder que do povo arrebataram há de retornar ao povo.
Sei que os homens morrem, mas a liberdade não perecerá jamais.
O Brasil precisa saber o que quer.
O brasileiro também precisa se definir, precisa saber o que quer.
Não me refiro somente ao cidadão comum, a homem simples. Refiro-me também as mais ilustres figuras públicas deste país incluindo aí juízes, desembargadores e ministros do Supremo Tribunal Federal.
Não se concebe mais em nenhum país democrático do mundo que a aplicação da lei tenha algo a ver com o nome e o sobrenome de alguém ou com o cargo que se ocupa. Inimaginável não isso nos dias atuais.
Mas vamos aos fatos.
Em 2012, o Brasil indignou-se quando a imprensa informou com o alarido exigido pelo caso que hackers haviam invadido o telefone de uma jovem senhora chamada Carolina Dieckmann.
A divulgação de fotos íntimas da bela e promissora atriz da rede Globo indignou a sensível sociedade brasileira.
É para indignar mesmo.
Afinal roubaram imagens intimas do próprio celular de uma pessoa, que antes mesmo de ser artista, famosa ou não, é uma mulher.
Mas temos que reconhecer que a resposta do poder público não demorou.
Violentaram uma mulher em sua intimidade. Isso é grave, isso é crime.
Em 2012, a presidente Dilma Rousseff sancionou a lei 12.737, do dia 30 de novembro.
E o que diz a lei? Alguém com certeza há de perguntar.
A lei , imediatamente batizada de ‘lei Carolina Dieckmann’, diz que é crime invadir dispositivo informático alheio, conectado ou não a rede de computadores, mediante violação indevida de mecanismos de segurança e com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informação sem autorização expressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita.
Há, sinceramente, alguma diferença entre o que aconteceu com a famosa Carolina Dieckmann em 2012 e o que acontece nos dias de hoje com o ministro Sérgio Moro e com outras diversas autoridades de menor coturno?
Roubar imagens íntimas de uma atriz da Globo não pode. Roubar textos privados de autoridades pode.
Que país é este onde ministros do Supremo Tribunal Federal e suas mulheres não podem ser investigados.
Ministro do Supremo Tribunal Federal, à luz da primeira suspeita, deveria ser afastado imediatamente. Num país sério é assim
A lei Carolina Dieckmann atende exatamente as exigências da polêmica atual sem tirar nem por.
Pelo menos é isso que se deduz a luz do bom senso.
Mas no Brasil tudo tem que ser diferente.
Aqui ninguém sabe o que quer, nem mesmo na mais alta corte.
A invasão de celular de um ministro de Estado e até do próprio presidente da Republica não é um crime tão grave assim.
Em nosso país crime mesmo é só mostrar a nudez de miss Dieckmann.
Surrupiar conversas de autoridades públicas é só um malinação de garotos levados em busca de diversão.
Por mais absurdo que possa parecer.
A escritora Iaponira Barros diz que ser jovem é uma coisa, ser velho é outra coisa.
A juventude é um estado de espírito, a velhice é um estado físico.
É verdade. Somos diferentes sim.
Ou como disse Dom Hélder Câmara, o segredo de ser jovem é ter uma causa a que dedicar a vida.
A juventude pode levar-nos a cometer muitos erros, por inocência e inexperiência, alerta o poeta José Augusto Branco.
Às vezes nos retraímos demais, e deixamos de explorar o grande potencial que temos, outras vezes sentimos uma energia tão grande dentro de si, que faz parecer que somos capazes de revolucionar o mundo!
E isto é verdade, nós realmente podemos.
Mas na juventude ainda nos falta tato e sabedoria para lidar com esse potencial.
Daí todas as coisas ditas impossíveis podem tornar-se promessas fáceis, e aquelas coisas fáceis podem parecer impossíveis. Algumas frustrações e decepções podem gerar-se a partir disto, mas isso não é de todo ruim.
A juventude é uma boa escola. Sempre chega o tempo em que você consegue dominar tuas capacidades e dar a exata medida às coisas, e você verá que mesmo os teus maiores erros e frustrações se tornarão para ti excelente tesouro no caminho de tua evolução e realização pessoal.
Viva a juventude em seu dia, um dia inteiramente dedicado a ela.
Em 1945, quando os japoneses assinavam sua rendição incondicional às forças americanas no Pacífico, pondo fim à segunda guerra mundial, o general Mac Artur fez questão de destacar o valor da juventude:
A juventude não é um período da vida, é um estado de espírito, um efeito de vontade, uma qualidade de imaginação, uma intensidade emotiva, uma vitória da coragem sobre a timidez, um gosto da aventura sobre o amor ao conforto.
Não é por ter vivido certo número de anos que envelhecemos, envelhecemos porque abandonamos o nosso ideal.
Os anos enrugam o rosto, renunciar ao ideal enruga a alma.
As preocupações, as dúvidas, os temores e os desesperos são os inimigos que lentamente nos inclinam para a terra e nos tornam pó antes da morte.
Jovem é aquele que se admira, que se maravilha e pergunta, qual criança insaciável:
E depois?__ Aquele que desafia os acontecimentos e encontra alegria no jogo da vida.
És tão jovem quanto a tua fé; tão velho quanto a tua descrença. Tão jovem quanto a tua confiança em ti e em tua esperança; tão velho quanto ao teu desânimo.
Serás jovem enquanto te conservares respectivo ao que é belo, bom e grande; respectivo às mensagens da Natureza, do homem, do infinito.
E se um dia teu coração for atacado pelo pessimismo e corroído pelo deboche, que Deus, então se apiede de tua alma de velho.
Talvez a mais rica, forte e profunda experiência da caminhada humana seja a de ter um filho.
Plena de emoções, por vezes angustiante, ser pai ou mãe é provar os limites que constituem o sal e o mel do ato de amar alguém.
Quando nascem, os filhos comovem por sua fragilidade, seus imensos olhos, sua inocência e graça.
Basta vê-los para que o coração se alargue em riso e cor. Um sorriso é capaz de abrir as portas de um paraíso.
Eles chegam à nossa vida com promessas de amor incondicional. Dependem de nosso amor, dos cuidados que temos. E retribuem com gestos que enternecem.
Mas os anos passam e os filhos crescem. Escolhem seus próprios caminhos, parceiros e profissões. Trilham novos rumos, afastam-se da matriz.
O tempo se encarrega da formação de novas famílias.
Os netos nascem. Envelhecemos.
E então algo começa a mudar.
Os filhos já não têm pelos pais aquela atitude de antes. Parece que agora só os ouvem para fazer críticas, reclamar, apontar falhas.
Já não brilha mais nos olhos deles aquela admiração da infância e isso é uma dor imensa para os pais.
Por mais que disfarcem, todo pai e toda mãe percebe as mínimas faíscas no olho de um filho.
É quando pais, idosos, dizem para si mesmos: Que fiz eu? Por que o encanto acabou? Por que meu filho já não me tem como seu herói particular?
Apenas passaram-se alguns anos e parece que foram esquecidos os cuidados e a sabedoria que antes era referência para tudo na vida.
Aos poucos, a atitude dos filhos se torna cada vez mais impertinente.
Praticamente não ouvem mais os conselhos.
A cada dia demonstram mais impaciência. Acham que os pais têm opiniões superadas, antigas.
Pior é quando implicam com as manias, os hábitos antigos, as velhas músicas.
E tentam fazer os velhos pais se adaptarem aos novos tempos, aos novos costumes.
Quanto mais envelhecem os pais, mais os filhos assumem o controle.
Quando eles estão bem idosos, já não decidem o que querem fazer ou o que desejam comer e beber. Raramente são ouvidos quando tentam fazer algo diferente.
Passeios, comida, roupas, médicos – tudo passa a ser decidido pelos filhos.
E, no entanto, os pais estão apenas idosos. Mas continuam em plena posse da mente. Por que então desrespeitá-los?
Por que tratá-los como se fossem inúteis ou crianças sem discernimento?
Sim, é o que a maioria dos filhos faz. Dá ordens aos pais, trata-os como se não tivessem opinião ou capacidade de decisão.
E, no entanto, no fundo daqueles olhos cercados de rugas, há muito amor.
Naquelas mãos trêmulas, há sempre um gesto que abençoa, que acaricia.
A cada dia que nasce, lembre-se, está mais perto o dia da separação.
Um dia, o velho pai já não estará aqui.
O cheiro familiar da mãe estará ausente. As roupas favoritas para sempre dobradas sobre a cama, os chinelos em um canto qualquer da casa.
Então, valorize o tempo de agora com os pais idosos. Paciência com eles quando se recusam a tomar os remédios, quando falam interminavelmente sobre doenças, quando se queixam de tudo.
Abrace-os apenas, enxugue as lágrimas deles, ouça as histórias mesmo que sejam repetidas e dê-lhes atenção, afeto…
Acredite: dentro daquele velho coração brotarão todas as flores da esperança e da alegria.
Um bom domingo dos pais a todos!
A Teresina FM completa neste mês de agosto 13 anos. A Teresina FM faz 13 anos exatamente no dia do aniversário da cidade de Teresina, nossa capital.
Para nós o tempo é de agradecimento, muitos agradecimentos.
São agradecimentos sinceros – do coração mesmo – a quem nestes 13 anos de existência da Teresina FM tem nos garantido essa audiência invejável, tem reconhecido a credibilidade que tantos nos honra e tem, também, nos dado força – muita força mesmo – para prosseguir nessa caminhada.
Os nossos mais sinceros agradecimentos aos nossos ouvintes.
Sem ouvinte, sem audiência, não representamos nada.
Os ouvintes representam tudo.
A Teresina FM reconhece isso.
Nós reconhecemos isso.
Ao longo desses anos a Teresina FM tem mantido a mesma linha editorial, um dos nossos compromissos com os ouvintes.
Ela, a nossa linha editorial, não muda.
Não muda porque a nossa linha editorial é um compromisso da Teresina FM com seus ouvintes.
É um compromisso com você.
Podemos dizer até que é uma espécie de compromisso de sangue.
É um compromisso que não pode ser rompido.
Ao contrário, é um compromisso que a cada ano que passa se solidifica mais, fica mais forte, se torna inquebrável.
A Teresina FM mantém acima de tudo o compromisso com a verdade, mesmo num tempo em que nem todos estão interessados nessa verdade, afinal – como escreveu Umberto Eco, escritor italiano falecido em 2016 – nem todas as verdades são para todos os ouvidos.
O compromisso da Teresina FM é também um compromisso nosso, um compromisso dos jornalistas da Teresina FM.
Trabalhamos diuturnamente, trabalhamos incessantemente, em busca da verdade. Continuamos firmes nesse propósito.
Vamos continuar em busca da verdade, aquela verdade que está intimamente ligada a tudo o que é sincero, que é verdadeiro.
Vamos continuar em busca daquela verdade que representa a afirmação daquilo que é correto, do que é seguramente o certo.
E vamos continuar. Independentemente de nomes, a linha editorial da Teresina FM será mantida.
Nossa linha editorial não é ditada por nossos interesses, é um compromisso público da empresa.
Cabe a nós, profissionais da Teresina FM, tão somente honrar esse compromisso público.
Por isso a nossa linha editorial é intocável.
Ela independe de nomes.
Grandes e valorosos profissionais já passaram por aqui; E vão continuar passando. Outros chegarão e continuarão a chegar, mas nada muda quando se trata do compromisso com o ouvinte e com a verdade.
Ao nos colocar no pedestal mais alto da audiência radiofônica na capital, os ouvintes nos concedem uma grande honra, podem ter certeza disso.
A preferência do teresinense nos honra e nos estimula, nos leva cada vez mais para frente e nos enche ainda mais de responsabilidades, nos enche de novos compromissos que certamente haveremos de honrar.
Obrigado a todos.
Não se sabe por que, mas a verdade é que nossos poetas preferem morrer em fim de ano.
Eles preferem ou é uma simples escolha do destino?
Mais uma pergunta sem resposta.
O fato é que neste período que vai de outubro a dezembro, exatamente quando vai se aproximando o período do Natal e do Ano Novo, muitos se encantaram.
Foi assim, por exemplo, com Gregório de Matos, Manoel Bandeira, Manuel Antônio de Sousa, Cecília Meireles, Augusto dos Anjos, João Cabral de Melo Neto, Guimarães Rosa e Humberto de Campos.
O nome de Humberto de Campos ficou no fim da fila de maneira proposital.
Humberto de Campos, apesar de maranhense, é um poeta que tem fortes ligações com o Piauí. Dezembro de 2019 marca os 85 de sua morte
Humberto de Campos passou boa parte de sua infância em Parnaíba.
Foi ali que aprendeu suas primeiras letras.
Foi ali que também descobriu seus pendores poéticos, o que o levou a escrever e a encantar o Brasil inteiro.
Humberto de Campos se foi.
Foi para São Luís, de lá para o Pará até chegar ao Rio de Janeiro, o grande centro cultural do país.
Graças a sua obra e ao seu talento foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, onde ocupou a cadeira de número 20.
Humberto de Campos se foi.
Foi, mas deixou sua marca no Piauí.
Deixou uma marca que sobrevive ao tempo e continua até hoje a denunciar a sua presença.
Humberto de Campos deixou um cajueiro.
Cajueiro que ele próprio plantou no distante ano de 1896 e que ainda hoje, mais de 120 anos depois, representa o próprio Humberto de Campos entre nós.
O cajueiro de Humberto de Campos é uma grata lembrança para todos nós.
Lembrança que tem seu registro na história, graças à crônica que o jovem Humberto escreveu quando chegou a hora do adeus, quando chegou a hora de partir para longe.
Meu Cajueiro…
Aos treze anos de idade, e três da sua, separamo-nos, o meu cajueiro e eu.
Embarco para o Maranhão, e ele fica.
Na hora, porém, de deixar a casa, vou levar-lhe o meu adeus.
Abraço-me ao seu tronco, aperto-o de encontro ao meu peito.
A resina transparente e cheirosa corre-lhe do caule ferido. Na ponta do ramo mais alto abotoam os primeiros cachos de flores miúdas e arroxeadas, como pequeninas unhas de criança com frio.
– Adeus, meu cajueiro. Até a volta!
Ele não diz nada, e eu me vou embora.
Da esquina da rua, olho ainda por cima da cerca, a sua folha mais alta, pequenino lenço verde, agitado em despedida.
E estou em São Luís, homem-menino, lutando pela vida, enrijando o corpo no trabalho duro e fortalecendo a alma no sofrimento, quando recebo uma comprida lata de folha acompanhando uma carta de minha mãe: “Receberás com esta uma pequena lata de doce de caju em calda. São os primeiros cajus do teu cajueiro. São deliciosos, e ele te manda lembranças”.