O anúncio do secretariado do governador Wellington Dias, talvez por conta das idas e vindas e do disse-me-disse que invadiu o estado, acabou por atrair a atenção de muitos.
O vai e vem das especulações com certeza causou angústia em muitos, principalmente nos que se achavam no direito de ser um dos secretários, espécie de casta de privilegiados do estado.
Mas o vai e vem das datas para o anúncio oficial da nova equipe serviu para mostrar claramente a nova face do Piauí.
O Piauí, a terra do sol do Equador, a terra que deposita sua esperança no verde das matas e num sol de imortal claridade, como cantou Da Costa e Silva, é também, por mais incrível que possa parecer, uma capitania hereditária. E como capitania hereditária vai passando de pai para filhos.
O Estado do Piauí tem donos.
Observem as mudanças no secretariado do governador Wellington Dias e vejam a quantidade de filhos, de irmãos e de parentes que estão chegando ao olimpo, a morada dos deuses na mitologia grega.
Sem dúvida o Piauí voltou à condição de capitania hereditária.
É impressionante o sistema de avaliação da capacidade técnica dos ungidos ao centro do poder.
A primeira avaliação exige de pronto o nome do pai ou da mãe. Essa é a questão mais importante entre todas elas.
O nome dos pais vai definir o cargo do indicado, sem a necessidade de uma avaliação do perfil técnico do gestor que se está escolhendo. Os filhos e parentes de quem tem mandato levam uma vantagem imensa sobre os pobres mortais que também aspiram um lugar ao sol.
Parlamentares que deixam o governo, por uma razão ou outra – e isso também não vem ao caso – saem sabendo que serão sucedidos pelo filho, pelo irmão, pela mulher, pelo primo… E aquele secretariado que era para ser a nova cara do governo, pode até ser novo, mas é um novo de cara envelhecida e de ideias pobres.
A sucessão dentro de famílias que há décadas estão no poder soa de forma ridícula nos tempos de hoje; esse tipo de substituição promove o descrédito em meio a população que esperava alguma coisas de bom e agora entra em profunda fase de desânimo diante de tudo o que esta assistindo.
O governador Wellington Dias, infelizmente, volta a decepcionar, e decepciona exatamente no dia seguinte a promessa de que agora sim iria ser efetivamente o governador do Piauí e que no seu quarto mandato iria deixar registrada uma marca de competência.
Para quem quer elevar o Piauí à condição de estado em grande estágio de desenvolvimento num curto espaço de três anos, o começo não foi nada animador.
Henry Ford, o lendário industrial americano, dizia que o insucesso é apenas uma oportunidade para recomeçar com mais inteligência.
Infelizmente o governador não aprendeu essa lição.
Pobre Piauí.
Trago no suor da pele
Nesse meu cheiro de sertão
O gosto pelo trabalho,
O calo vivo na mão.
Canto o canto da minha gente
Nas cordas de um violão.
A poesia de Márcia Alves de Nazaré não deixa dúvida sobre de quem estamos falando. É isso mesmo que você está pensando.
Estamos falando do sertanejo, este homem esquecido pelo Brasil ao longo dos séculos, exatamente no dia que lhe é dedicado, o 3 de maio.
Eu cuido e vivo da terra,
Plantando arroz e feijão.
Meu nome é insignificante
Até chegar a eleição
Quando batem à minha porta,
com propostas de inclusão.
Graciliano Ramos, no livro Vidas Secas, descreve o sertanejo como uma pessoa que fala pouco, bem diferente do tagarela descrito por outros autores regionalistas.
O nordestino é um homem calado, é verdade.
Mas o nordestino é um forte.
No dizer de Euclides da Cunha no livro “Os Sertões”, o sertanejo é, antes de tudo, um forte. E realmente é.
O sertanejo não é o indolente que muitos pregam.
O sertanejo é um homem desconfiado, isso pode ser. Mas preguiçoso não.
Patativa do Assaré, ele próprio um sertanejo do sertão do Ceará, confirma isso:
Sou matuto sertanejo,
Daquele matuto pobre
Que não tem gado nem quêjo,
Nem ôro, prata, nem cobre.
Sou sertanejo rocêro,
Eu trabaio o dia intêro,
Que seja inverno ou verão.
Minhas mão é calejada,
Minha péia é bronzeada
Da quintura do sertão.
Este é o sertanejo, um homem destemido, mesmo cheio de crendices, que só pensa no seu trabalho e na sua terra.
Canto a vida desta gente
Que trabaia inté morrê
Sirrindo, alegre e contente,
Sem dá fé do padecê,
Desta gente sem leitura,
Que, mesmo na desventura,
Se sente alegre e feliz,
Sem nada sabê na terra,
Sem sabê se existe guerra
De país cronta país.
Mas se o sertanejo é um forte, como disse Euclides da Cunha, o sertanejo é também um esquecido, o sertanejo é uma espécie de exilado dentro de seu próprio país.
O sertanejo é uma pessoa que acredita em tudo o que o homem da cidade diz, é um homem que acredita até em promessa de político.
Aceita tudo o que lhe dizem e recebe tudo que lhe dão.
Como canta o poeta Daví Calisto Neto:
Ser sertanejo é morar
Numa casa sem conforto
Não dá valor ao aborto
Querer a prole aumentar
Ter dez filhos pra criar
Só no cabo da enxada
Lutar pela filharada
Mesmo tendo que sofrer
É não participar de festa
Viver lutando isolado
Com sua esposa de lado
Chapéu quebrado na testa
Ser vigia da floresta
Levantar de madrugada
Esta vida mal levada
Sem ter direito ao lazer
Nunca calçar um sapato
Nem vestir uma roupa nova
Porém tem que dar a prova
De não ser um homem ingrato
Mesmo sofrendo maltrato
Com uma vida atrasada
A mulher amargurada
Por não ter o que comer
Ser sertanejo é viver
A vida sem gozar nada
Vivemos uma tragédia silenciosa no Piauí.
Uma tragédia que, confesso, sou cúmplice.
Mas não sou o único culpado nessa história, disso tenho certeza.
Convencionou-se no código de ética do jornalismo brasileiro que jornalista não deve divulgar suicídio. Grandes nomes da imprensa brasileira nos ensinaram que suicídio não é notícia a ser divulgada. Esses mesmos especialistas acreditavam e ainda acreditam seus seguidores que divulgar suicídio é incentivar a quem tem tendência suicida, mas não tem coragem de se matar. Traduzindo: divulgar suicídio incentiva o suicídio.
Mas isso será mesmo verdade?
Confesso que não sei.
Se é verdade, como explicar a situação do Piauí diante desse problema?
A imprensa do Piauí há muito virou as costas para esse tipo de notícia. Aqui ninguém divulga suicídio, mas as pessoas continuam se matando.
Ninguém divulga, mas Teresina há muito tempo é uma das campeãs nacional em número de suicídios.
Isso mesmo. Teresina, a capital do Piauí, possui um dos maiores índices de suicídios do Brasil.
No Piauí, onde a imprensa se cala em obediência ao seu próprio código, o índice de suicídio é 57% maior que a média nacional.
Esse percentual, sem dúvida, é alarmante.
Não só alarmante, mas preocupante.
Independentemente do silêncio da imprensa, o suicídio é um grave caso de saúde pública e tem que ser tratado como tal.
O suicídio – dizem os especialistas – não acontece do nada. Trata-se de uma consequência decorrente de uma série de fatores de natureza emocional, psicológica e até mesmo física.
Não há, pelo menos até agora, estudos que apontem uma causa específica que leve alguém a atentar contra a própria vida, mas existe a certeza de que pelo menos 90% dos casos de suicídio são evitáveis. E se são evitáveis, o que realmente estamos fazendo para evitá-los?
Desesperança, falta de perspectiva, solidão, falta daquele senso de pertencimento a um grupo, pressões sociais, a necessidade de se encaixar em um modelo pronto, a ansiedade, se sentir obrigado a atender expectativas, tudo isso contribui para o agravamento de um problema que não pode mais ficar no anonimato, não pode mais ser jogado para debaixo do tapete.
A vida até pode ser uma loucura e o mundo até pode ser triste, mas vale a pena matar-se por isso?
Não podemos desistir diante da primeira dificuldade, não podemos desistir só porque as coisas são ou se apresentam difíceis. Acredite sempre que o melhor ainda está por vir.
Desistir não vai fazer de você um vencedor.
Ou como prega o escritor Paulo Coelho: Não desista. Geralmente é a última chave no chaveiro que abre a porta.
Não é de hoje que se questiona a justiça e seus atos. No Brasil pode até parecer coisa nova, mas no mundo, na história universal, não é.
Sêneca, um dos mais célebres advogados do Império Romano, por exemplo, já questionava a justiça, em suas ‘Cartas a Lucílio’.
Quero que me ensinem o valor sagrado da justiça — da justiça que apenas tem em vista o bem dos outros, e para si mesma nada reclama senão o direito de ser posta em prática.
A justiça – dizia ele – nada tem a ver com a ambição ou a cobiça da fama, apenas pretende merecer aos seus próprios olhos.
Acima de tudo, cada um de nós deve convencer-se de que temos de ser justos sem buscar recompensa.
Mais ainda: cada um de nós deve convencer-se de que por esta inestimável virtude devemos estar prontos a arriscar a vida, abstendo-nos o mais possível de quaisquer considerações de comodidade pessoal.
Não há que pensar qual virá a ser o prêmio de um ato justo; o maior prémio está no fato de ele ser praticado. Não interessa para nada saber quantas pessoas estão a par do teu espírito de justiça.
Fazer publicidade da nossa virtude significa que nos preocupamos com a fama, e não com a virtude em si.
O francês Albert Camus, em “O Mito de Sísifo” coloca que liberdade absoluta mete a justiça a ridículo.
A justiça absoluta nega a liberdade.
Para serem fecundas, as duas noções devem descobrir os seus limites uma dentro da outra. Nenhum homem considera livre a sua condição se ela não for ao mesmo tempo justa, nem justa se não for livre.
Precisamente, não pode conceber-se a liberdade sem o poder de clarificar o justo e o injusto, de reivindicar todo o ser em nome de uma parcela de ser que se recusa a extinguir-se.
Finalmente, tem de haver uma justiça, embora bem diferente, para se restaurar a liberdade, único valor imperecível da história.
Os homens só morrem bem quando o fizeram pela liberdade: pois, nessa altura, não acreditavam que morressem por completo.
Justiça é consciência, não uma consciência pessoal mas a consciência de toda a humanidade.
Aqueles que reconhecem claramente a voz de suas próprias consciências normalmente reconhecem também a voz da justiça.
E o juiz, como dizia Platão, não é nomeado para fazer favores com a justiça, mas para julgar segundo as leis.
A insensibilidade humana
Como crer num gestor público que não se sensibiliza com o drama humano?
Como aceitar e acreditar num gestor público que não se comove diante de pessoas carentes implorando para não morrer?
Como compreender um gestor da coisa pública que se mantém em silêncio diante de apelos dramáticos de uma pessoa que implora para viver e nada faz?
Sinceramente, uma pessoa pública que age assim não tem condições e muito menos moral de cobrar respeito a ninguém.
Refiro-me aqui ao caso do nosso ouvinte Mauro, um insulino dependente que há anos depende dos medicamentos distribuídos pelo governo para continuar tocando a vida.
O Mauro, que sempre pede ajuda através da Teresina FM, consegue sensibilizar o Brasil inteiro com seus apelos pelo direito de viver. Só não consegue sensibilizar os insensíveis gestores da saúde em Teresina.
Nosso ouvinte Mauro não é o único nessa história. Ele é apenas um de milhares de pessoas que padecem da mesma situação no Piauí; ele é apenas um a enfrentar mês a mês a humilhação do poder, a humilhação dos que se acham a própria arrogância, daqueles que se acham insubstituíveis e imortais.
Lamentavelmente vivemos sob o jugo desse tipo de gente no Piauí de hoje.
Fernando Pessoa, o grande poeta e filósofo português, disse certa vez que o mundo é de quem não sente. A condição essencial para se tornar um homem prático é a ausência de sensibilidade.
Vivo hoje, poderíamos dizer que Fernando Pessoa inspirou-se nos exemplos do Piauí recente.
Chegamos, infelizmente, ao mais alto grau de indiferença para com o próximo. Fechamos o coração para as necessidades de nossos irmãos, muitos deles tão carentes de tudo, inclusive de afeto.
Quando uma pessoa perde a sensibilidade do coração, é terrível, porque ela já não faz mais distinção do que é certo e errado.
Como disse o padre e jornalista Roger Araújo, temos razão e lógica, mas a nossa vida não é só isso, ela é também sensibilidade humana.
Precisamos recuperar nossa sensibilidade emocional, precisamos recuperar aquela sensibilidade que nos torna capaz de sentir empatia e assimilar sentimentos.
Os gestores do Piauí, principalmente os da área de saúde pública, precisam aprender isso.
Precisam aceitar e compreender que são responsáveis por vidas humanas.
Precisam entender que esta omissão covarde e irresponsável, pode, de uma hora para outra, levar pais e mães de família à morte inapelável.
Precisam entender que quando nada mais nos assusta ou nos incomoda; quando nossos olhos já não têm mais a sensibilidade do discernimento e o banal se torna normal, não é o mundo que está perdido, somos nós que nos perdemos no mundo.
Como crer num gestor público que não se sensibiliza com o drama humano?
Como aceitar e acreditar num gestor público que não se comove diante de pessoas carentes implorando para não morrer?
Como compreender um gestor da coisa pública que se mantém em silêncio diante de apelos dramáticos de uma pessoa que implora para viver e nada faz?
Sinceramente, uma pessoa pública que age assim não tem condições e muito menos moral de cobrar respeito a ninguém.
Refiro-me aqui ao caso do nosso ouvinte Mauro, um insulino dependente que há anos depende dos medicamentos distribuídos pelo governo para continuar tocando a vida.
O Mauro, que sempre pede ajuda através da Teresina FM, consegue sensibilizar o Brasil inteiro com seus apelos pelo direito de viver. Só não consegue sensibilizar os insensíveis gestores da saúde em Teresina.
Nosso ouvinte Mauro não é o único nessa história. Ele é apenas um de milhares de pessoas que padecem da mesma situação no Piauí; ele é apenas um a enfrentar mês a mês a humilhação do poder, a humilhação dos que se acham a própria arrogância, daqueles que se acham insubstituíveis e imortais.
Lamentavelmente vivemos sob o jugo desse tipo de gente no Piauí de hoje.
Fernando Pessoa, o grande poeta e filósofo português, disse certa vez que o mundo é de quem não sente. A condição essencial para se tornar um homem prático é a ausência de sensibilidade.
Vivo hoje, poderíamos dizer que Fernando Pessoa inspirou-se nos exemplos do Piauí recente.
Chegamos, infelizmente, ao mais alto grau de indiferença para com o próximo. Fechamos o coração para as necessidades de nossos irmãos, muitos deles tão carentes de tudo, inclusive de afeto.
Quando uma pessoa perde a sensibilidade do coração, é terrível, porque ela já não faz mais distinção do que é certo e errado.
Como disse o padre e jornalista Roger Araújo, temos razão e lógica, mas a nossa vida não é só isso, ela é também sensibilidade humana.
Precisamos recuperar nossa sensibilidade emocional, precisamos recuperar aquela sensibilidade que nos torna capaz de sentir empatia e assimilar sentimentos.
Os gestores do Piauí, principalmente os da área de saúde pública, precisam aprender isso.
Precisam aceitar e compreender que são responsáveis por vidas humanas.
Precisam entender que esta omissão covarde e irresponsável, pode, de uma hora para outra, levar pais e mães de família à morte inapelável.
Precisam entender que quando nada mais nos assusta ou nos incomoda; quando nossos olhos já não têm mais a sensibilidade do discernimento e o banal se torna normal, não é o mundo que está perdido, somos nós que nos perdemos no mundo.
Mesmo quem não vai ao estádio ou não gosta de acompanhar futebol com certeza sabe o que é e para que serve o goleiro.
Goleiro é uma posição única no futebol.
Só o goleiro pode pegar a bola com a mão sem cometer falta.
Só o goleiro tem o privilégio de acariciar a bola com as mãos, pode até rolar abraçado com ela pelo gramado.
Ninguém fica zangado e alguns até o aplaudem.
O goleiro é aquela figura solitária que fica lá atrás, embaixo de uma trave, para guarnecer o gol.
Talvez por isso em Portugal ele também seja conhecido como guarda redes.
Ser goleiro é ser herói e vilão exatamente ao mesmo tempo.
O goleiro é sempre quem encabeça a escalação do time; Só ele e mais ninguém é o número 1.
Mas – alguém há de perguntar – por que essa onda toda com o goleiro na manhã desta sexta-feira?
Essa onda toda é porque 26 de abril é o Dia do Goleiro.
No Brasil o goleiro é festejado neste dia por ser a data de nascimento de Ailton Corrêa Arruda.
E com certeza você nem imagina quem seja esse senhor, que hoje completa 82 anos de idade..
Ailton Corrêa Arruda é nada menos que o lendário Manga, um grande goleiro que fez fama no Botafogo e tornou-se um dos melhores do mundo.
Em qualquer time, em qualquer seleção, o goleiro é sempre o que mais chama a atenção.
A missão do goleiro é ingrata.
Se evita o gol adversário vira herói, vira o salvador.
Mas se a bola entra, de repente é crucificado, é o único culpado pela derrota.
O torcedor não lembra os gols perdidos pelo ataque de seu time, mas não consegue esquecer um só instante da falha do goleiro no gol sofrido.
A vitória é dos outros.
A derrota sempre é culpa do goleiro.
O goleiro vai do céu ao inferno em poucos segundos.
Mas goleiro é assim mesmo.
Na primeira grande defesa na partida seguinte o torcedor esquece tudo o que passou e volta a aplaudi-lo.
É uma espécie de relação de amor e ódio.
O goleiro sempre tenta evitar o inevitável, sempre achando – lá no fundo – que dava para defender o mais indefensável dos chutes.
O escritor russo Wladimir Nabokov definiu o goleiro como uma alma solitária, um homem misterioso. Um homem para quem os fotógrafos se ajoelham para imortalizá-lo em pleno salto espetacular.
Já o escritor uruguaio Eduardo Galeano define o goleiro como aquele primeiro a receber e o primeiro a pagar.
O goleiro sempre tem culpa. E, se não tem, paga do mesmo jeito.
O goleiro, se bom, é chamado de pegador, muralha, paredão, matador, tira com o olho, trave humana, chiclete; Se é ruim ou se falha no lance é frangueiro, Mão de Lodo, Cotó, Vigia…e por aí vai.
Mas o goleiro é, antes e acima de tudo, um ser humano.
Parabéns a todos eles.