De acordo com a consultora jurídica do Setut, diversas alterações na minuta do acordo dificultam um consenso
A crise do transporte público de Teresina, que se arrasta há nove meses, parece ainda estar distante do seu término. Nesta segunda (4) e terça-feira (5), sucessivas reuniões entre a Prefeitura Municipal e as empresas de ônibus foram realizadas, sem, contudo, o estabelecimento de um acordo definitivo.
Para a advogada Naiara Moraes, consultora jurídica do Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos de Teresina (Setut), as frequentes alterações na minuta do contrato geram um impasse entre as partes.
“O pré-acordo apresentado pelo secretário de Planejamento João Henrique Sousa foi aprovado por 10 das 11 empresas presentes na reunião. Entretanto, várias mudanças foram incluídas pela Strans, pela Procuradoria Geral e pela própria Prefeitura Municipal. Tais modificações causam frustração aos empresários”, afirmou.
Em seguida, a consultora explicou que, com a alteração da minuta, a Prefeitura sugeriu a formação de uma comissão para discutir os débitos deste ano durante o prazo de 120 dias, nos moldes do acordo firmado no ano passado. Entretanto, as empresas exigem que as dívidas de 2021 sejam sanadas de acordo com as regras atuais, e não as estabelecidas anteriormente.
No entendimento da advogada, o ente municipal politiza uma situação que não é necessariamente política. Aponta a contradição da gestão Dr. Pessoa (MDB), que alega não reconhecer as dívidas preexistentes, mas garantiu na minuta o pagamento do prejuízo de R$ 21 milhões advindo dos mandatos anteriores.
Sobre as recentes paralisações promovidas pelos funcionários do transporte público, Naiara considerou que os empresários poderiam pagar a parcela de R$ 700 mil, atrasada desde 2020, caso a Prefeitura parcelasse a dívida total em prestações de R$ 4 milhões. “Todavia, mesmo esta quantia não assegura que a classe deixe de exercitar seus direitos. Eles apenas querem receber os benefícios adiados”, salientou.
Finalmente, a consultora alertou aos usuários do sistema para não comprarem o discurso de “farra dos empresários” empregado por agentes públicos após a CPI do Transporte. Segundo Naiara, a verdadeira questão diz respeito aos direitos dos cidadãos, trabalhadores e empresários.
“Hoje, os cidadãos de Teresina gastam 50% do próprio salário em transportes clandestinos e irregulares, não raro com passagens mais caras. A quitação de dívidas por parte da Prefeitura visa a garantia do direito da população ao transporte público de qualidade”, completou.