Em 2020, cerca de 116,8 milhões de brasileiros não tinham pleno e permanente acesso a alimentos
Matéria de Eduardo Costa
Ir ao supermercado fazer compras tem se tornado uma missão difícil para muitas famílias por conta dos altos preços dos alimentos. As prateleiras têm preços atualizados até mesmo em poucas horas.
O óleo de soja, por exemplo, teve um aumento de 211% entre o período de 2019 a 2022, saindo de R$ 3,17 para custar em média, R$ 9,85. Já a carne se tornou artigo de luxo na mesa de muitos brasileiros. No Piauí, o quilo da carne de primeira não é encontrado nos supermercados por menos de R$ 40,00.
Com os altos preços, chefes de famílias têm se desdobrado para garantir a alimentação. É o caso do Sr. Paulo de Araújo. Aos 58 anos, se vê obrigado a abrir mão de outras essencialidades para garantir a alimentação da sua família.
“A maioria das vezes, eu como sou pai de família e necessito de comprar gêneros alimentícios, muitas vezes deixo de comprar o que é de extrema necessidade para poder passar o supermercado. Os preços estão abusivos e nós temos que nos alimentar de qualquer forma”, disse o chefe de família.
Outras pessoas buscam alternativas para economizar nas compras. É o caso da assistente administrativa Auristela Leal, que busca ficar atenta às promoções.
“Mulher gosta de promoção. Fico pesquisando nos sites e redes sociais onde está tendo promoção para poder comprar com preços mais acessíveis”, destacou.
Mas a situação é ainda pior para muitas famílias. Estudos da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, realizados em 2020, apontam que 116,8 milhões de brasileiros não tinham pleno e permanente acesso a alimentos. Destes, 43,4 milhões não contavam com alimentos em quantidade suficiente, ou seja, em quadro de insegurança alimentar moderada ou grave, e 19,1 milhões estavam passando fome.
No Piauí, os dados de insegurança alimentar são alarmantes desde antes da pandemia. Segundo dados do suplemento de segurança alimentar da pesquisa de orçamentos familiares, 2017-2018, divulgados em 2020, 46% dos domicílios piauienses sofrem com a insegurança alimentar, o que corresponde a cerca de 468 mil lares.
Muitos fatores contribuíram para o aumento dos valores dos gêneros alimentícios. A engenheira agronômica Pablianne Barros aponta as dificuldades enfrentadas pelos produtores rurais.
“Atualmente a gente tá vivendo uma alta de preços com relação aos alimentos, principalmente na prateleira do supermercado. Isso reflete muito do que o campo vem vivenciando. O produtor rural hoje ele enfrenta elevados preços de adubos, fertilizantes foliares, sementes, irrigação, dentre outros. Então o custo de produção para o produtor rural tá muito alto e isso contribui com as altas de preço no mercado. O cenário do mercado internacional é muito instável, e nós dependemos de matéria-prima de outros países, para principalmente, produzir fertilizante. Em algum momento isso também reflete na prateleira do supermercado”, apontou.
O professor de economia da Universidade Federal do Piauí (UFPI), João Victor Sousa, explica outros fatores econômicos que influenciam no preço final dos alimentos.
“Alimentos no geral, derivados de animais ou vegetais eles são considerados Commodities, e eles têm seu preço estabelecido com base na cotação de Bolsa de Valores nos mercados internacionais, ou seja, independentemente do custo de cada produtor individual, independentemente do quanto cada produtor produza, o preço é estabelecido com base na taxação internacional. Quando a demanda internacional aumenta, o preço aumenta. Quando a demanda internacional cai, o preço cai e consequentemente produtores apenas se beneficiam ou se prejudicam dessas altas e baixas, mas tem pouco ou nenhuma capacidade de influenciar de fato o preço dos produtos”, disse.
O economista também aponta a pandemia como um dos fatores dos elevados preços dos alimentos.
“Quando surgiu a pandemia, em março de 2020, muitos países produtores de alimentos passaram a fechar as exportações para garantir o abastecimento no mercado nacional, garantindo a segurança alimentar do seu país, fazendo com que a oferta internacional de alimentos reduzisse bastante. Como essa oferta internacional reduziu o preço do alimento subiu. O preço dos alimentos subiu desde o inicio da pandemia em virtude dessa menor oferta de alimentos em relação ao que era produzido e ofertado antigamente”, complementou.
Além dos já citados, outro ponto citado como primordial para o aumento dos preços é a falta de compras da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
“Nós temos a Conab, que tinha um elemento chamado de estoque público de alimentos. Na medida que a economia entra em crise, que há uma tendência de de instabilidade, a Conab garantia uma compra mínima de produtos alimentícios de modo que ela garantiria que aqueles produtos fossem vendidos no mercado nacional. Então os produtores agrários brasileiros produziam, a conab comprava parcela desses produtos e ofertavam para os mercados e consumidores aqui no país. Quando havia a prática do estoque público de alimentos, estávamos prevenidos com relação a possíveis crises. No entanto, desde 2017, a Conab quase zerou a porcentagem de compra para garantir esse estoque público de alimentos. Então o Brasil sofre tanto com alta internacional dos alimentos, como também pela escassez de alimentos ofertados pelo próprio país, apesar de sermos uma grande potência agrária”, concluiu.
Essa é a primeira de uma série de reportagens sobre o preço dos alimentos no Brasil. Na segunda, você vai conferir que a otimização do consumo e a produção caseira podem trazer benefícios ao consumidor.