Consultora e pesquisadora destacam curiosidade e identificação como motivos do acúmulo de seguidores
Essa é a segunda e última de uma série de reportagens sobre a ascensão dos influenciadores digitais. Na segunda-feira (4), você conheceu duas criadoras de conteúdo de Teresina que se destacam nos nichos de moda, maquiagem e estilo de vida.
Uma pesquisa conduzida pelo Ibope Inteligência em 2019 mostra que 52% dos internautas brasileiros seguem algum influenciador em suas redes sociais. Metade desse índice, conforme o levantamento, confessa que adquire os produtos e serviços indicados pelas personalidades nas plataformas.
Para Margella Furtado, consultora de marketing digital, os números apresentados no estudo da Nielsen são justificados pela pandemia de Covid-19, cujas medidas restritivas levaram bilhões de pessoas a cumprirem um rigoroso isolamento social e, naturalmente, desenvolverem suas relações pessoais e profissionais por meio das mídias virtuais.
“A forma como enfrentamos a doença modificou profundamente nossos costumes, uma vez que muitos precisaram migrar do trabalho presencial para o home office. Quem já produzia conteúdo antes conseguiu aumentar ainda mais o potencial de sua audiência, enquanto os que iniciaram depois da pandemia vislumbraram a oportunidade de influenciar outros usuários e serem remunerados por meio do marketing”, explica.
Na visão de Margella, uma das características do público que acompanha os influenciadores é a curiosidade em conhecer a vida dos donos dos perfis, o que costumam fazer no dia-a-dia, o que consomem e quais as razões por trás de tudo isso.
“Os seguidores são fidelizados a partir do momento em que os criadores se mostram autênticos. Não basta apenas divulgar um produto, é necessário testá-lo antes de compartilhá-lo com seus seguidores. Caso estes não aprovem o produto, têm todo o direito de expressar sua opinião nas redes, o que pode causar uma grande polêmica e uma influência negativa”, avalia.
Uma questão relacionada à presença de criadores de conteúdo na Internet é a integração de crianças e adolescentes aos ambientes virtuais. A audiência infanto-juvenil tem acesso constante a publicações que abordam, entre temas variados, o estilo de vida de alguns influenciadores, cuja tendência de moldar facilmente a mentalidade dos menores não deixam de gerar consequências, as quais afetam a autoimagem e a autoestima.
Nesse sentido, Raquel Costa, mestre em Comunicação pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), considera que os jovens colhem, ao mesmo tempo, benefícios e malefícios da exposição às mídias, e aponta que essa realidade também ocorre com um público mais velho.
“Independentemente da idade, as pessoas se aproximam de um conteúdo por identificação ou por terem algum tipo de ligação com o mesmo. Por um lado, a depender do assunto, podem se sentir representadas; por outro, experimentam frustração se veem uma vida diferente, almejada por elas, sem a percepção de que aquilo não é realmente perfeito”, analisa.
A pesquisadora acredita que deve haver um equilíbrio entre o entretenimento e a realidade, de modo que os internautas compreendam que os influenciadores realizam um trabalho nas redes sociais, o qual, por sua vez, deve ser transmitido aos demais usuários com responsabilidade.
“Devemos ter em mente que o on-line e o off-line não são desassociados. O que é mostrado nas mídias digitais é apenas um fragmento da vida real e, por trás da tela, há uma pessoa normal que vive momentos bons e ruins. Quanto à segurança das crianças, pais e responsáveis devem monitorar a atividade virtual delas”, complementa.
Independentemente de como são avaliados, os influenciadores digitais se firmam a cada dia como uma das profissões mais comuns na nova realidade em que estamos inseridos. Como trabalhadores, devem possuir direitos e deveres e, acima de tudo, como comunicadores, prezar pela criação de conteúdos que estimulem comportamentos positivos em suas audiências.