Ex-ministro das Relações Exteriores disse nunca ter feito ‘declarações antichinesas’, o que não é verdade
O ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo é ouvido nesta terça-feira, 18, na CPI da Covid. Durante o depoimento, ele negou ter feito “declarações antichinesas” — o que é falso. Veja a checagem de falas de Ernesto na CPI.
Isso é falso. Em abril do ano passado, Araújo publicou um texto em seu blog pessoal em que dizia que o coronavírus é, na verdade, um plano comunista. No artigo intitulado “Chegou o Comunavírus”, o ex-chanceler faz comentários sobre um livro de Slavoj Zizek segundo o qual a pandemia do coronavírus representa “uma imensa oportunidade de construir uma ordem mundial sem nações e sem liberdade”.
Em outro episódio de conflito com a China, em março de 2020, o ex-chanceler saiu em defesa de Eduardo Bolsonaro após o filho do presidente republicar uma mensagem no Twitter que culpava o país asiático pela pandemia. Na ocasião, o perfil oficial da embaixada chinesa protestou contra o deputado e disse que ele havia contraído “vírus mental”. O então chanceler classificou a reação da embaixada “desproporcional”, disse que feriu “a boa prática diplomática” e pediu retratação por parte do embaixador, Yang Wanming, que rejeitou a sugestão de Araújo.
É falso. Em janeiro, a Índia anunciou que exportaria material para produção de vacinas para seis países; o Brasil não estava nessa lista inicial. De acordo com comunicado do dia 19 daquele mês, o Ministério das Relações Exteriores da Índia dizia estar fornecendo o material para Butão, Maldivas, Bangladesh, Nepal, Mianmar e o arquipélago de Seicheles. Os países onde os trâmites legais ainda estavam em andamento são Sri Lanka, Afeganistão e as Ilhas Maurício.
Naquela data, o governo brasileiro tentava importar vacinas da Índia, mas as negociações estavam travadas, de acordo com o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. O Brasil chegou a preparar um avião para buscar 2 milhões de doses, mas não recebeu um “ok” do lado indiano. Especialistas consultados pelo Estadão na época apontaram que o País estava isolado diplomaticamente.
Apenas no dia 21, o embaixador da Índia em Brasília, Suresh Reddy, confirmou que seu país tinha liberado a exportação de doses para o Brasil. Marrocos também receberia vacinas indianas. As doses chegaram em solo brasileiro no final do dia 22.
A primeira reunião da Organização Mundial de Saúde para criação do consórcio de vacinas ocorreu em abril de 2020; no entanto, o Brasil não participou dessa tratativa inicial. Dos 11 países presentes na reunião, o único representante das Américas era da Costa Rica.
A OMS divulgou no final de agosto que o Brasil manifestou interesse em entrar no consórcio. Na ocasião, eram 80 os países na lista para participação do Covax Facility. Em setembro, o governo brasileiro anunciou a adesão ao Instrumento de Acesso Global a Vacinas; isso foi formalizado em março de 2021.
Fonte: Estadão