Por Tiago Andrade 

O Instituto Volta Vida, localizado no bairro Verdecap, zona sudeste de Teresina, é suspeito de irregularidades e maus-tratos contra ex-pacientes. A clínica, que atua no tratamento da dependência de álcool, drogas e outras compulsões, conta com unidades também em Fortaleza (CE) e São Luís (MA).

O Instituto Volta Vida, localizado no bairro Verdecap, zona sudeste de Teresina (Foto: Reprodução do Google Maps)

De acordo com denúncias recebidas pela nossa produção, os internos da clínica só podem falar com familiares por apenas cinco minutos ao telefone, acompanhados de funcionários, no viva-voz, e são coagidos a não citar o que acontece na instituição.

As visitas de parentes também seriam monitoradas de perto por funcionários. As alegações feitas por ex-pacientes e familiares lançaram uma sombra sobre a atuação da clínica.

Um ex-paciente, que não quis se identificar, contou à nossa reportagem um pouco da sua experiência quando esteve internado. “Na época, quando a gente ia fazer uma ligação para a família, a ligação era no viva-voz, que era para tanto a família escutar quanto a pessoa que estava do lado, que era o terapeuta, para estar ouvindo o que você estava falando, se você não ia fazer um pedido de socorro ou pedir para alguém vir buscar, que estava sofrendo, esse tipo de coisa […] você era praticamente instruído a dizer que tudo estava bem e estava tudo às mil maravilhas. Eu passei por tudo isso”, disse.

Em outubro de 2022, a 29ª Promotoria de Justiça de Teresina e o setor de Psicologia e Assistência Social do Ministério Público do Piauí (MPPI), através do Centro de Apoio Operacional de Defesa da Saúde (CAODS), realizaram uma inspeção no Instituto. A visita foi conduzida pelos promotores de Justiça Eny Marcos Vieira Pontes e Karla Carvalho.

A visita técnica foi conduzida pelos promotores de Justiça Eny Marcos Vieira Pontes e Karla Carvalho. (Foto: Ascom/MPPI)

Questionado acerca das denúncias, o diretor do hospital, Ricardo Temporini, relatou que acontecem por conta das internações involuntárias. “O paciente que é internado de forma involuntária vem mesmo não querendo vir. A família trás no desespero, porque está havendo degradação patrimonial, e risco de vida para ele e de terceiros. Mas todo o processo é comunicado ao Ministério Público”, disse.

A coordenadora do CAODS, Karla Carvalho, constatou a falta de alguns itens no Plano Individual de Atendimento (PIA) e nos prontuários dos pacientes. “Existe uma Lei de 2019 que especificou itens obrigatórios quanto à evolução de cada interno. Verificamos que não há evolução em critérios de psicologia e serviço social. Por isso, é necessário que haja essa inclusão no PIA, na internação e que seja seguido à risca, desde o primeiro, até o último artigo da Lei”, pontou a promotora.

De acordo com informações do Ministério Público, as denúncias contra a instituição foram encaminhadas para a 12ª Promotoria de Justiça de Teresina, especializada na defesa da saúde.

Nossa reportagem entrou em contando com a clínica solicitando esclarecimentos sobre a denúncia, mas até a publicação desta matéria, a empresa não deu retorno. O espaço está aberto para qualquer manifestação.