Não é de hoje que se questiona a justiça e seus atos. No Brasil pode até parecer coisa nova, mas no mundo, na história universal, não é.
Sêneca, um dos mais célebres advogados do Império Romano, por exemplo, já questionava a justiça, em suas ‘Cartas a Lucílio’.
Quero que me ensinem o valor sagrado da justiça — da justiça que apenas tem em vista o bem dos outros, e para si mesma nada reclama senão o direito de ser posta em prática.
A justiça – dizia ele – nada tem a ver com a ambição ou a cobiça da fama, apenas pretende merecer aos seus próprios olhos.
Acima de tudo, cada um de nós deve convencer-se de que temos de ser justos sem buscar recompensa.
Mais ainda: cada um de nós deve convencer-se de que por esta inestimável virtude devemos estar prontos a arriscar a vida, abstendo-nos o mais possível de quaisquer considerações de comodidade pessoal.
Não há que pensar qual virá a ser o prêmio de um ato justo; o maior prémio está no fato de ele ser praticado. Não interessa para nada saber quantas pessoas estão a par do teu espírito de justiça.
Fazer publicidade da nossa virtude significa que nos preocupamos com a fama, e não com a virtude em si.
O francês Albert Camus, em “O Mito de Sísifo” coloca que liberdade absoluta mete a justiça a ridículo.
A justiça absoluta nega a liberdade.
Para serem fecundas, as duas noções devem descobrir os seus limites uma dentro da outra. Nenhum homem considera livre a sua condição se ela não for ao mesmo tempo justa, nem justa se não for livre.
Precisamente, não pode conceber-se a liberdade sem o poder de clarificar o justo e o injusto, de reivindicar todo o ser em nome de uma parcela de ser que se recusa a extinguir-se.
Finalmente, tem de haver uma justiça, embora bem diferente, para se restaurar a liberdade, único valor imperecível da história.
Os homens só morrem bem quando o fizeram pela liberdade: pois, nessa altura, não acreditavam que morressem por completo.
Justiça é consciência, não uma consciência pessoal mas a consciência de toda a humanidade.
Aqueles que reconhecem claramente a voz de suas próprias consciências normalmente reconhecem também a voz da justiça.
E o juiz, como dizia Platão, não é nomeado para fazer favores com a justiça, mas para julgar segundo as leis.