Trago no suor da pele
Nesse meu cheiro de sertão
O gosto pelo trabalho,
O calo vivo na mão.
Canto o canto da minha gente
Nas cordas de um violão.
A poesia de Márcia Alves de Nazaré não deixa dúvida sobre de quem estamos falando. É isso mesmo que você está pensando.
Estamos falando do sertanejo, este homem esquecido pelo Brasil ao longo dos séculos, exatamente no dia que lhe é dedicado, o 3 de maio.
Eu cuido e vivo da terra,
Plantando arroz e feijão.
Meu nome é insignificante
Até chegar a eleição
Quando batem à minha porta,
com propostas de inclusão.
Graciliano Ramos, no livro Vidas Secas, descreve o sertanejo como uma pessoa que fala pouco, bem diferente do tagarela descrito por outros autores regionalistas.
O nordestino é um homem calado, é verdade.
Mas o nordestino é um forte.
No dizer de Euclides da Cunha no livro “Os Sertões”, o sertanejo é, antes de tudo, um forte. E realmente é.
O sertanejo não é o indolente que muitos pregam.
O sertanejo é um homem desconfiado, isso pode ser. Mas preguiçoso não.
Patativa do Assaré, ele próprio um sertanejo do sertão do Ceará, confirma isso:
Sou matuto sertanejo,
Daquele matuto pobre
Que não tem gado nem quêjo,
Nem ôro, prata, nem cobre.
Sou sertanejo rocêro,
Eu trabaio o dia intêro,
Que seja inverno ou verão.
Minhas mão é calejada,
Minha péia é bronzeada
Da quintura do sertão.
Este é o sertanejo, um homem destemido, mesmo cheio de crendices, que só pensa no seu trabalho e na sua terra.
Canto a vida desta gente
Que trabaia inté morrê
Sirrindo, alegre e contente,
Sem dá fé do padecê,
Desta gente sem leitura,
Que, mesmo na desventura,
Se sente alegre e feliz,
Sem nada sabê na terra,
Sem sabê se existe guerra
De país cronta país.
Mas se o sertanejo é um forte, como disse Euclides da Cunha, o sertanejo é também um esquecido, o sertanejo é uma espécie de exilado dentro de seu próprio país.
O sertanejo é uma pessoa que acredita em tudo o que o homem da cidade diz, é um homem que acredita até em promessa de político.
Aceita tudo o que lhe dizem e recebe tudo que lhe dão.
Como canta o poeta Daví Calisto Neto:
Ser sertanejo é morar
Numa casa sem conforto
Não dá valor ao aborto
Querer a prole aumentar
Ter dez filhos pra criar
Só no cabo da enxada
Lutar pela filharada
Mesmo tendo que sofrer
É não participar de festa
Viver lutando isolado
Com sua esposa de lado
Chapéu quebrado na testa
Ser vigia da floresta
Levantar de madrugada
Esta vida mal levada
Sem ter direito ao lazer
Nunca calçar um sapato
Nem vestir uma roupa nova
Porém tem que dar a prova
De não ser um homem ingrato
Mesmo sofrendo maltrato
Com uma vida atrasada
A mulher amargurada
Por não ter o que comer
Ser sertanejo é viver
A vida sem gozar nada