Quando a proposta de reforma da previdência nacional parece finalmente se encaminhar para um final – não muito feliz, registre-se – ainda é possível se fazer algumas observações.
E a principal delas diz respeito às exceções.
Quem na avaliação nem sempre muita sábia dos nobres deputados merece se aposentar mais cedo?
Os policiais acham que sim, eles merecem vestir o pijama mais cedo. E, reconheçamos, merecem sim.
O policial, pela sua atividade de alto risco, merece um tratamento diferenciado sim.
Os professores também querem manter esse privilégio da aposentadoria um pouco mais cedo. E os professores, claro, também merecem esse privilégio.
Mas a verdade – a grande verdade – é que se abrir alguma exceção a reforma da previdência se tornará ainda mais injusta.
Afinal, várias outras categorias também merecem essa espécie de prêmio da aposentadoria antecipada.
O lavrador, por exemplo.
Será que alguém imagina ser fácil a vida de um lavrador, aquele homem que trabalha de sol a sol todos os dias?
Porque o lavrador tem que trabalhar 35 anos na sua roça ou na roça dos outros para se aposentar? Qual o estudo que garante ser possível isso?
Especialistas em Previdência defendem uma idade mínima de 65 anos para a aposentadoria, mas de profissionais que trabalhem em atividades administrativas e de natureza intelectual.
A mesma regra, no entanto, não pode ser aplicada a profissões insalubres, perigosas ou que exijam vigor físico.
Impossível imaginar um policial de 60 anos de idade trocando tiros com bandidos na rua. Eles não podem ser tratados da mesma forma que quem trabalha no escritório, no ar-condicionado.
Mas também não se pode concordar que o trabalhador braçal tenha o mesmo tratamento dado a quem exerce atividades administrativas. Não faz sentido.
O parlamento brasileiro, pelo andar da carruagem, vai perder mais uma grande oportunidade de reduzir as desigualdades sociais no Brasil.
Ao optar por penalizar ainda mais a camada mais pobre da população, o Congresso Nacional certamente irá aprofundar ainda mais essas desigualdades.
Andamos sempre na contramão.
Enquanto mundo afora os países civilizados lutam para reduzir suas desigualdades, no Brasil costumamos fazer exatamente o contrário. Aqui a maioria do parlamento trabalha para criar um fosso cada vez maior entre ricos e pobres. O rico tem que ter sempre mais e o pobre tem que ter sempre menos.
Isso faz com que a aposentadoria de boa parte do povo brasileiro funcione mais como castigo do que como um prêmio de reconhecimento e de exaltação ao trabalho.
No Brasil, infelizmente, aposentadoria ainda é uma punição.
E, pelo visto, vai continuar sendo por muito tempo mais.