Homenagear o nordestino é homenagear um homem valente, um homem corajoso, um verdadeiro cabra da peste.
Euclides da Cunha escreveu no livro Os Sertões que o nordestino é, antes de tudo, um forte. Ele escreveu a frase depois de acompanhar várias incursões do Exército brasileiro contra um bando de matutos armados – muito mais pela fé do que pelas armas – rechaçar uma a uma as tentativas dos militares de chegar até Antônio Conselheiro.
A partir daí, o nordestino, com a coragem e a tenacidade de seus matutos no sertão baiano, tornou-se um forte na defesa daquilo em que acredita.
Sim, o nordestino é um forte. O nordestino continua sendo um forte, apesar de tudo.
O nordestino é resistente, tão resistente que consegue sobreviver a ação do próprio homem.
Chega a ser quase impossível ser forte diante das agruras que a vida oferece e da insensibilidade dos homens.
Dos homens públicos, principalmente.
Exigir do nordestino uma postura de homem forte é difícil. Mas ele consegue ser.
É até mesmo uma maldade sem tamanho exigir tanto de quem recebe tão pouco.
Afinal, como ser forte num país que nega tudo a seu povo?
Como ser forte sem educação, sem saúde e sem segurança?
Como ser forte sem assistência aos lavradores, aos agricultores, nossos verdadeiros homens do campo?
O nosso sertanejo pode ser o homem desgracioso, pode ser desengonçado e torto, como também foi descrito por Euclides da Cunha, mas continua um homem forte.
O andar sem firmeza, sem aprumo e sinuoso pode até aparentar a translação de membros desarticulados, mas não o deixa fraco.
Agrava-o a postura normalmente abatida, num manifestar de displicência um caráter de humildade deprimente. Mas é um homem destemido.
A pé, quando parado, o nordestino recosta-se invariavelmente ao primeiro umbral ou parede que encontra; a cavalo, se sofreia o animal para trocar duas palavras com um conhecido, cai logo sobre um dos estribos, descansando sobre a espenda da sela, mas não tem medo de cara feia.
Caminhando, mesmo a passo rápido, não traça trajetória retilínea e firme. Avança celeremente, num bambolear característico de que parecem ser o traço geométrico dos meandros das trilhas sertanejas. Mas é valente.
Até que tentam acabar a valentia do nosso sertanejo. Até que tentam eliminar a vontade de lutar do nosso sertanejo, mas ainda não conseguiram.
Substituíram tudo isso por uma ajuda temporária que se fez permanente e que não encaminha ninguém para um futuro decente. Mas o verdadeiro sertanejo resiste.
A esmola pode até criar uma falsa sensação nesses bravos; pode até criar a sensação de que eles agora são vistos pela Nação e finalmente conseguiram melhorar de vida. Mas eles não se abatem.
O bravo e forte sertanejo que Euclides da Cunha conheceu e retratou em Os Sertões felizmente ainda existe.
Apesar de tudo.