26/11/2024

Eu e o diabo na terra do sol 

17 de outubro de 2019

Um velho ditado português diz que quem vive no inferno acostuma-se com o diabo.

Será mesmo verdade?

O ditado português, muito usado no mundo, principalmente no Brasil, tem lá suas implicações.

Quando se coloca o inferno no centro das coisas, entende-se que o inferno é o que vivemos hoje, aqui na terra mesmo e o diabo somos todos nós.

Na ótica portuguesa nós, pobres mortais, chegamos ao inferno e acabamos por gostar de lá.

Naturalmente que não é um amor à primeira vista. É uma coisa que vai acontecendo aos poucos, bem devagarinho.

Uma reclamação aqui outra reclamação ali e nenhuma providência.

Aí o tempo vai passando, passando… uma nova reclamação ali outra acolá  e nada de providência.

Nesse andar vagaroso acabamos por nos acostumar.

E quando nos acostumamos perdemos a vontade de lutar, perdemos a vontade de nos libertar.

E quando se perde a vontade de lutar, é o fim.

Quando se perde a vontade de lutar ficamos com a visão turva, distorcida. Perdemos a identidade e passamos a considerar normal tudo o que acontece em nossa volta.

Até mesmo os maiores absurdos são considerados normais.

Como dizia Mário Lago, quando o homem perder a esperança, pode apagar o arco-íris.

Acostumar-se com o inferno e com o diabo representa na sabedoria portuguesa aquela situação em que se joga a toalha.

No Boxe, por exemplo, quando o treinador joga a toalha sinaliza que seu atleta está desistindo de continuar a luta.

No Piauí muitos fizeram isso.

Aliás, no Piauí, a luta acabou bem mais cedo.

Muitos desistiram antes mesmo do soar do gongo.

Antes de soar o gongo jogamos a toalha; sequer esperamos por um último suspiro; não esperamos nem mesmo por aquele último suspiro que encerra a vida.

Fugimos do ringue bem antes disso.

Aceitamos a derrota. Ou melhor, aceitamos a supremacia do diabo do ditado português.

E com isso passamos a considerar que o inferno é o melhor dos lugares. Passamos a achar o inferno uma maravilha.

Mesmo sabendo que o inferno não representa nenhuma maravilha.

O inferno nada mais é do que a covardia de quem se recusou a lutar.

Nada mais é do que a covardia de quem recuou antes do soar do gongo, covardia de quem não quis prosseguir lutando.

Como bem diz o sábio, covarde é aquele que não tenta.

Covarde é aquele que não se esforça por um mundo melhor.

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