Hoje, dia da saudade, vamos novamente falar de saudade.
Afinal, quem nunca sentiu uma saudade? Saudade de alguém, de um objeto, saudade da infância, das brincadeiras, dos pais?
Desde o início dos tempos a saudade é um dos temas preferidos de poetas e trovadores mundo afora. Como não sou poeta nem trovador, recorro a alguns deles.
Saudade, segundo os dicionaristas, é um sentimento nostálgico provocado pela distância de algo ou alguém, pela ausência de uma pessoa, coisa ou local, ou pela vontade de reviver experiências, situações ou momentos já passados.
Foi este sentimento, com certeza que levou o amarantino Antônio Francisco da Costa e Silva a escrever uma das poesias mais belas de toda sua vasta produção literária, batizada exatamente de Saudade:
Saudade- olhar de minha mãe rezando e o pranto lento deslizando em fio.
Saudade amor da minha terra… o rio
cantiga de águas claras soluçando.
Noites de junho. O caboré com frio
ao luar sobre o arvoredo piando, piando
e a noite as folhas lívidas cantando
a saudade infeliz de um sol de estio.
O poeta é assim. Fala com a alma.
Da Costa e Silva só cometeu um único pecado: o de nascer no Piauí, onde vive esquecido até pelos que têm a obrigação de impedir que isso aconteça.
A saudade é também cantada em versos simples, como “Quando a saudade é demais, não cabe no peito: escorre pelos olhos”; ou “Saudade é o preço que se paga por viver momentos inesquecíveis”.
A saudade também inspirou o compositor Ataulfo Alves, em uma música inesquecível. Quem não sente saudade da professorinha que lhe ensinou o bê-a-bá e da Mariazinha, o seu primeiro amor?
Saudade dos quintais de nossa terra. Das frutas fartas e gratuitas.
E como cantou Da Costa e Silva:
Saudade do rio Parnaíba, o velho monge
as barbas brancas alongando e ao longe
o mugido dos bois da minha terra.
Mas a saudade não se alimenta apenas da poesia, da pessoa ou do local distante.
Muitos, como eu, sentem saudade de tempos outros. Saudade, por exemplo, dos valores morais hoje esquecidos nos baús da história, tal como nossos grandes poetas.
Saudade do tempo em que até uma barba tinha seu valor e um simples fio do seu bigode era marca inquestionável da palavra empenhada; saudade das pessoas honestas que ao longo da vida tentaram fazer desse estado e desse país um lugar melhorar para se viver;
Saudade da paz que reinava em nossas ruas; saudade do tempo em que se sentava nas calçadas sem qualquer temor.
São saudades que renascem na memória de quem ainda consegue ficar perplexo com o alto grau de desonestidade a que chegamos; na memória de quem ainda consegue se indignar com os malfeitos que acompanhamos diariamente pelos noticiários; na memória daqueles que ainda acreditam que ainda podem fazer um mundo melhor.
Afinal, como diz o poeta, saudade é uma coisa que não tem medida, é um vazio que só se pode preencher com a lembrança.