Desde o começo dos tempos a história nos mostra que os pais sempre se preocuparam com o futuro dos filhos.
No começo de tudo, os filhos tinham que ser fortes e guerreiros para que estivesse sempre próximo aos poderosos e com isso obter vantagens.
Já num passado mais recente os pais encaminhavam seus filhos para cidades distantes em busca de uma formação superior, de preferência medicina, o orgulho maior de qualquer pai.
Os tempos evoluíram, as coisas mudaram e se tornaram mais fáceis.
Hoje os pais podem determinar a carreira que o filho deve seguir. Melhor ainda, o próprio filho pode escolher a carreira que quer seguir. Pode escolher a carreira em que acha que vai ficar rico ou a profissão do coração, aquela que gosta.
Neste ponto retrocedo na memória e volto ao ano de 1972, na minha ainda pequena Água Branca.
Fim de tarde, envergando orgulhosamente minha farda cáqui com quatro estrelas cinzas nos ombros – indicando minha condição de quartanista ginasial – escuto a voz do meu pai a me chamar.
Atendo e na minha frente ele abre um papel que levava nas mãos e me pergunta o que quero ser no futuro.
No papel alguns cursos por correspondência, entre eles jornalismo.
Foi amor a primeira vista. Ali mesmo disse a meu pai que queria ser jornalista. Segui para a escola próxima, mas ainda pude ouvi-lo, não sei se alegre ou abalado pela minha escolha:
Pois estude!
Realizei meu desejo, minha vontade.
Mas hoje, quase 50 anos depois, sou forçado a me questionar sobre tudo isso.
Agi certo ao ignorar o desejo manifesto do meu pai de ter um filho médico?
Ou fiz certo em seguir o coração e me tornar jornalista numa região onde o estado é o patrão?
Os fatos insistem em mostrar que escolhi o caminho errado, mas não quero acreditar. Tenho que me fazer de turrão; tenho que bater o pé e morder o beiço para mais uma vez acreditar que fiz a escolha certa.
Confesso que está cada vez mais difícil.
Os fatos são teimosos, são insistentes.
Neste episódio dos 400 mil reais para duas pobres festas na Potycabana voltei a fraquejar.
Denunciar tudo isso e não ouvir nem um “oh!” de espanto dos demais é decepcionante.
Se não desabei de vez devo a um punhado de bravos entrincheirados na Teresina FM.
São homens e mulheres que não querem ser melhor do que ninguém, mas o são.
E o são porque honram a profissão que escolheram e abraçaram. Honram o juramento feito em sala de aula.
São bons por que aprenderam que Jornalismo é exatamente publicar aquilo que alguém não quer que se publique.
Não só aprenderam, praticam.
Afinal, o jornalismo, como ensinava Cláudio Abramo, é, antes de tudo e sobretudo, a prática diária da inteligência e o exercício cotidiano do caráter.