O governador foi segunda-feira(3) à Assembleia Legislativa, para a abertura do Ano Legislativo, como é de praxe.
Falou muito, como também é de praxe.
O governador pintou o Piauí com cores totalmente diferentes das cores que estamos acostumados a ver.
Na fala de Wellington Dias, o Piauí de atrasos não existe. Ou talvez nunca tenha existido; os anos de miséria foram apenas longos pesadelos, dos quais não restam sequer lembranças nas memórias do poder.
Em 2019, segundo Wellington disse aos deputados, o Piauí cresceu no padrão China. Um feito no mínimo extraordinário, porque – como o próprio governador reconhece – é muito difícil um país no mundo conseguir tal proeza.
Temos que comemorar.
Afinal se é difícil para um país superar a China, imagina só um pobre estado do Nordeste brasileiro conseguir tal proeza?
Lembrei, por oportuno, aquelas esquetes televisivas da Escolinha do Professor Raimundo, onde o personagem Adelmar Vigário, que nunca sabia a resposta, escapava elogiando a inteligência do professor.
Mas o governador não parou por aí.
Garantiu que este 2020, que mal começou, será melhor ainda. Portanto, não devemos nos espantar se em fevereiro do ano que vem o governador anunciar que superamos a China.
A mensagem anual do governador Wellington Dias lida protocolarmente na Assembleia Legislativa, é sempre uma caixinha de surpresas.
Surpresas sim.
Na correria do dia a dia talvez não seja possível se observar a quantas andam o Piauí e assim as surpresas realmente se transformam em verdadeiras surpresas.
Quem não lembra, por exemplo, da luta para trocar o pneu com a velha rural em andamento lá no distante ano de 2003?
Quem não lembra, por exemplo, do Piauí campeão em produção de energia?
Quem não lembra, por exemplo, da festa da uva, saudação a uma cultura revolucionária que ainda ia começar?
Quem não lembra, por exemplo, do PIB de Uruçuí superando o PIB de São Paulo?
Todas essas novidades fizeram suas estreias no parlamento, claro que numa deferência muito especial aos deputados estaduais, a grande maioria governista.
A impressão que fica é que temos dois Piauí, o pobre e o rico.
Durante o ano inteiro usamos o Piauí velho, o Piauí pedinte, de calça rasgada e que vive de pires na mão em busca de alguns trocados.
No começo do ano a coisa muda de figura.
Colocam roupa nova, paletó e gravata, e apresentam o Piauí novo; um Piauí saudável, aparentando boa saúde e com dinheiro no bolso; um Piauí disposto e valente.
Entra ano e sai ano e o roteiro continua o mesmo, não muda.
Aliás, nem os personagens mudam.