Recebi de um ouvinte a seguinte mensagem:
“A gente fica pensando. O povo brasileiro não liga para autoritarismo. Nem nazismo.
Certo, nunca ligou. O povo não liga para perda de direitos, nem para economia travada, não liga para pane nos serviços públicos.
O povo tá ligando para que?”
Alguém sabe?
Realmente saber o que pensa o brasileiro hoje é muito difícil. Mas sempre foi assim. Sempre foi difícil fazer essa avaliação.
Do final dos anos 50 até o início dos anos 70, o brasileiro se encantava com o futebol.
A seleção de Pelé e Garrincha cuidava com esmero da felicidade geral da Nação. Era o suficiente, ou era o bastante.
A violência política oculta pela censura ou pela falta de interesse dos próprios brasileiros não chamava tanta atenção. Importava sim o tricampeonato no México.
Além do futebol, o brasileiro sempre gostou de carnaval.
O carnaval foi e continua sendo a grande vitrine do Brasil no exterior e motivo de contentamento popular.
Com a aposentadoria de seus maiores craques e o declínio da seleção, restou o consolo do carnaval.
Sem uma pesquisa mais profunda sobre o assunto, a única certeza que resta é que o brasileiro gosta de festa. De festa e de vida mansa.
Nelson Rodrigues dizia que o brasileiro não está preparado para ser o maior do mundo em coisa nenhuma.
Ser o maior do mundo em qualquer coisa, mesmo em cuspe à distância, implica uma grave, pesada e sufocante responsabilidade.
O brasileiro, pelo que se deduz, não é afeito a uma responsabilidade, nem que essa responsabilidade seja a de um emprego.
Uma pesquisa feita no ano passado revela que o brasileiro está mais preocupado com as suas férias do que com a própria aposentadoria.
Isso nos leva à uma conclusão prática: se depender de uma reação popular aos mau feitos, o Brasil sinceramente sucumbirá de vez. O brasileiro, pelo visto, não pretende sair tão cedo de sua zona de conforto.
A conformação é a mais clara demonstração de falta de solidariedade entre as pessoas.
É o mais claro sinal de que estamos mais preocupados com o nosso próprio umbigo.
Se minha vida consegue ser pelo menos razoável, por que me preocupar com a vida dos outros?
O que me interessa saber se o vizinho de um lado ou de outro passa dificuldades?
Este é o mundo do eu sozinho. Não preciso de ninguém e ninguém precisa de mim.
Só que na vida a gente sempre precisa de alguém.
Quem pensa diferente, pensa errado.
E um dia poderá se arrepender.