26/11/2024

A nossa sucupira

19 de maio de 2020

Alguém aí lembra da novela o bem Amado?

As pessoas da minha geração certamente que lembram muito bem dos discursos verborrágicos do prefeito demagogo Odorico Paraguaçu, a maior liderança política da pequena e imaginaria cidade de sucupira, no litoral baiano

Tudo ia muito bem até o prefeito Odorico Paraguaçu descobrir que sua cidade não tinha um cemitério. Seus defuntos eram sepultados em cidades vizinhas

O que, naturalmente, ofendia a honra dos conterrâneos.

O prefeito construiu um cemitério e de repente as pessoas pararam de morrer.

E por mais que o próprio prefeito tentasse se esforçasse, ninguém morria.

E se não morria ninguém, o prefeito não conseguia inaugurar o cemitério que mandou construir com tanto zelo.

Fosse nesta época de coronavirus, certamente que Odorico não teria tantas dificuldades para abrir as portas de sua grande obra.

Não pensem que o isolamento mexeu com meus poucos neurônios. Pode até ter mexido, mas não ao ponto de me afetar a razão.

A novela o bem Amado durou exatamente dez meses. Começou em janeiro e terminou em outubro de 1973.

O que me chamou a atenção neste momento para estabelecer uma ligação entre o Piauí e os nossos odoricos foi exatamente um prefeito do nosso interior.

Assisti nas redes sociais uma entrevista de um prefeito interiorano, que até conheço.

Na entrevista, repórter pergunta mais ou menos assim:

– prefeito, em que obras o senhor está investindo os recursos que o governo federal enviou para seu município usar no combate ao coronavirus?

A resposta do prefeito:

– bem, eu já estou ampliando o cemitério da cidade. Nosso cemitério é muito pequeno e estava necessitando de mais espaço.

O repórter volta a perguntar:

Só isso, prefeito?

O prefeito responde:

Só isso nada. Estou construindo outros três cemitérios na zona rural.

E passa a citar o nome das localidades beneficiadas.

E numa dessas localidades o prefeito ainda explica:

– lá não mora quase ninguém, mas a gente nunca sabe, né?

Chamo a atenção não para a construção de cemitérios, afinal cemitério deve ser um dos chamados itens essenciais, já que ha sempre a necessidade de sepultar alguém.

Chamo a atenção para a mentalidade dos políticos brasileiros.

É melhor garantir o enterro do que gastar dinheiro com prevenção.

É preferível garantir o caixão e a cova.

Assim o voto fica mais seguro.

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