Alguém aí lembra da novela o bem Amado?
As pessoas da minha geração certamente que lembram muito bem dos discursos verborrágicos do prefeito demagogo Odorico Paraguaçu, a maior liderança política da pequena e imaginaria cidade de sucupira, no litoral baiano
Tudo ia muito bem até o prefeito Odorico Paraguaçu descobrir que sua cidade não tinha um cemitério. Seus defuntos eram sepultados em cidades vizinhas
O que, naturalmente, ofendia a honra dos conterrâneos.
O prefeito construiu um cemitério e de repente as pessoas pararam de morrer.
E por mais que o próprio prefeito tentasse se esforçasse, ninguém morria.
E se não morria ninguém, o prefeito não conseguia inaugurar o cemitério que mandou construir com tanto zelo.
Fosse nesta época de coronavirus, certamente que Odorico não teria tantas dificuldades para abrir as portas de sua grande obra.
Não pensem que o isolamento mexeu com meus poucos neurônios. Pode até ter mexido, mas não ao ponto de me afetar a razão.
A novela o bem Amado durou exatamente dez meses. Começou em janeiro e terminou em outubro de 1973.
O que me chamou a atenção neste momento para estabelecer uma ligação entre o Piauí e os nossos odoricos foi exatamente um prefeito do nosso interior.
Assisti nas redes sociais uma entrevista de um prefeito interiorano, que até conheço.
Na entrevista, repórter pergunta mais ou menos assim:
– prefeito, em que obras o senhor está investindo os recursos que o governo federal enviou para seu município usar no combate ao coronavirus?
A resposta do prefeito:
– bem, eu já estou ampliando o cemitério da cidade. Nosso cemitério é muito pequeno e estava necessitando de mais espaço.
O repórter volta a perguntar:
Só isso, prefeito?
O prefeito responde:
Só isso nada. Estou construindo outros três cemitérios na zona rural.
E passa a citar o nome das localidades beneficiadas.
E numa dessas localidades o prefeito ainda explica:
– lá não mora quase ninguém, mas a gente nunca sabe, né?
Chamo a atenção não para a construção de cemitérios, afinal cemitério deve ser um dos chamados itens essenciais, já que ha sempre a necessidade de sepultar alguém.
Chamo a atenção para a mentalidade dos políticos brasileiros.
É melhor garantir o enterro do que gastar dinheiro com prevenção.
É preferível garantir o caixão e a cova.
Assim o voto fica mais seguro.