Impossível não falar em vírus nos tempos que estamos vivendo.
Impossível também não falar em morte. Aliás, a morte ganhou uma dimensão tal nestes tempos de coronavirus, que se tornou uma espécie de amiga mais velha de cada um de nós.
Uma amiga traiçoeira, na verdade. Vive a nos espreitar.
A morte é ainda assunto tabu, um assunto recalcado e silenciado.
Às vezes escolhemos viver como se a morte não existisse.
Na sociedade atual a morte é banalizada com as guerras, calamidades, eutanásia, aborto, acidentes, pandemias…
A realidade é que a morte faz parte da vida.
A morte é – no entendimento de muitos – o fim do curso vital, é uma invenção da própria vida em sua evolução.
Morrer é uma experiência profundamente humana.
Como disse Santa Teresinha, a pessoa não morre, entra na vida.
A morte não é apenas um fim, ela é também – e principalmente – um começo.
É o início do dia sem ocaso, da eternidade, da plenitude da vida.
A vida é imortal, espiritualmente falando. Sem fé, porém, a morte é um absurdo, é um inimigo, uma derrota;
Sem fé a morte é uma humilhação, uma tragédia, um vazio.
Na fé, a morte é irmã, é condição para mais vida, é coroamento e consumação;
Por fim, a morte tem um valor educativo: ensina o desapego da propriedade privada, iguala e nivela todas as classes sociais, relativiza a ambição e a ganância, ensina a fraternidade universal na fragilidade da vida.
A morte convida à procriação para eternizar a vida biológica, rompe o apego a circuito fechado entre as pessoas, leva ao supremo conhecimento de si e oportuniza a decisão máxima e a opção fundamental da pessoa.
Para os que creem na eternidade, a morte é porta de entrada da vida, o acesso a uma realidade superior, a posse da plenitude.
Assim a morte é um ganho, verdadeira libertação, uma bênção que livra a vida do tédio.
Mas do ponto de vista racional ou filosófico, a morte é repugnante.
Buda disse: “O homem comum pensa com indiferença na morte de um estranho, com tristeza na morte de um parente e com horror na própria morte”.
Outro pensador disse: “Quando morre o filho ou a mulher do próximo, todos dizem: é a lei da humanidade. Mas, quando morre o próprio filho ou a própria mulher, o que se ouve são gemidos, gritos e lágrimas”.
Na poesia, no entanto, tudo se resume de maneira bem mais prática:
A morte não é nada para nós, pois, quando existimos, não existe a morte.
E quando existe a morte, não existimos mais.