26/11/2024

Ao mestre, com carinho!

9 de julho de 2020

 Quem pagará o enterro e as flores

Se eu me morrer de amores?

Quem, dentre amigos, tão amigo

Para estar no caixão comigo?

A Opinião desta quinta-feira é dedicada a Vinicius de Moraes, grande nome da cultura brasileira.

São exatamente 40 anos de sua morte, se é que se pode afirmar que ele realmente morreu, pois há sempre quem diga que um poeta não morre nunca, viverá para sempre.

Quem, em meio ao funeral

Dirá de mim: — Nunca fez mal…

Quem, bêbado, chorará em voz alta

De não me ter trazido nada?

Quem virá despetalar pétalas

No meu túmulo de poeta?

 

É verdade verdadeira. O poeta não morre. Então, se é assim, Vinicius continua aqui entre nós, mais vivo do que nunca;

 

Quem me dirá palavras mágicas

Capazes de empalidecer o mármore?

Quem, oculta em véus escuros

Se crucificará nos muros?

Quem, macerada de desgosto

Sorrirá: — Rei morto, rei posto…

 

Quantos, os maxilares contraídos

O sangue a pulsar nas cicatrizes

Dirão: — Foi um doido amigo…

Quem, criança, olhando a terra

Ao ver movimentar-se um verme

Observará um ar de critério?

Quem, em circunstância oficial

Há de propor meu pedestal?

O poeta é como sua obra, a poesia. Poeta e poesia são imortais. Ele pode até partir fisicamente, mas a sua poesia fica na nossa alma até seguirmos o mesmo caminho.

Outros virão:

Quais os que, vindos da montanha

Terão circunspecção tamanha

Que eu hei de rir branco de cal?

Qual a que, o rosto sulcado de vento

Lançara um punhado de sal

Na minha cova de cimento?

Quem cantará canções de amigo

No dia do meu funeral?

Qual a que não estará presente

Por motivo circunstancial?

Poeta é sempre poeta… Não morre nunca.

Distancia-se talvez de um tempo vivido.

E permanece nos sonhos dos outros.

Cutucando a alma através das palavras…

 

Quem cravará no seio duro

Uma lâmina enferrujada?

Quem, em seu verbo inconsútil

Há de orar: — Deus o tenha em sua guarda.

Qual o amigo que a sós consigo

Pensará: — Não há de ser nada…

Quem será a estranha figura

A um tronco de árvore encostada

Com um olhar frio e um ar de dúvida?

Quem se abraçará comigo

 

O material do poeta é a vida, por isso  parece que a poesia é a mais humilde das artes, diz o próprio Vinicius de Moraes.

 

A morte vem de longe

Do fundo dos céus/

Vem para os meus olhos

Virá para os teus/

Desce das estrelas

Chega impressentida/

Nunca inesperada

Ela que é na vida

A grande esperada! /

A desesperada

Do amor fratricida /

Dos homens, ai! dos homens

Que matam a morte

Por medo da vida./

Vinícius de Moraes vive, definitivamente, Vinícius vive!

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