Dizem que a cidade é a professora do homem, dizem que uma cidade é um mundo se amarmos um dos seus habitantes, mas dizem também que cidade é um lugar onde as pessoas ficam sozinhas juntas.
Dizem ainda que a forma de uma cidade muda mais rápido, infelizmente, do que um coração mortal.
Teresina168 anos!
Vejam só!
Nossa cidade menina, graças à pressa do tempo, já é uma respeitável senhora mais do que centenária. De uma menina que a todos encantava, virou uma espécie de trisavó, Às vezes até mesmo uma vozinha mal humorada.
Aliás, por que mesmo tanta pressa? Por que o tempo tem que ser sempre corrido, sem nos dar uma chance sequer a uma pausa para descanso?
Por que não uma pausa suficiente apenas para a fixação em nossa memória de imagens de tempos idos que estão se tornando distantes, bem distantes? Tempos que não voltam mais. Nunca mais.
Teresina, cujos olhos de menina encantam logo à primeira vista, é realmente uma cidade de encantos. Encantos que você tem a obrigação de decifrá-los. Decifra-me ou te devoro, tal qual a esfinge de Tebas.
Embora me esforce ao máximo para conservar alguns resquícios da Teresina antiga, cidade provinciana que sempre nos acolheu, nem sempre de braços abertos, mas está cada vez mais difícil.
A Teresina das ruas de nomes bucólicos, do padeiro e do leiteiro nas portas; de autoridades despachando na calçada ou na sombra sempre aprazível das árvores no quintal de casa acabou há muito.
A Teresina dos bondes, da animação do Clube dos Diários e da praça Pedro II; A Teresina animada da Paissandu, das areias do Parnaíba e do Poti. Essa não existe mais. Está se apagando nas nossas memórias.
Teresina é uma cidade que não cuida do seu passado, infelizmente. Dai a condenação das gerações às trevas da ignorância.
Não era para ser assim, mas é.
Não estamos deixando para os que veem pela frente nem mesmo pequenos indícios de que em Teresina também existiu um começo, existiu um primeiro passo.
Teresina sempre foi seletiva. Nem todos os que aqui chegam aqui ficam. Muitos voltam pelo mesmo caminho, na mesma pisada. Só fica quem resolve desafiar a cidade e a sorte.
Mas os que conseguem sobreviver têm sempre uma palavra de gratidão, de respeito e de amor pela cidade.
A acolhida pode até não ter sido muito agradável, mas com a convivência e o passar do tempo, começamos a perceber quão acolhedora é nossa capital. Ninguém resiste.
No mais, é só concordar com o poeta Mário Quintana:
Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso
Que faz com que o teu ar
Pareça mais um olhar,
Suave mistério amoroso,
Cidade de meu andar
(Deste já tão longo andar!)
E talvez de meu repouso…