Na visão do parlamentar, suspensão de emendas do relator por parte do Supremo configuram “abuso de poder”
Matéria de Wanderson Camêlo
O deputado federal Átila Lira (Progressistas) foi um dos que não gostou nem um pouco da declaração do colega de Congresso Delegado Waldir (PSL-GO) em entrevista ao site The Intercept Brasil. O representante do PSL garantiu que colegas de Câmara foram “comprados” para votarem em matérias consideradas prioritárias para o governo, como a Reforma da Previdência.
Lira rebateu dizendo que o colega de parlamento fez as declarações com o intuito de se projetar e acrescentou que a revolta do colega tem a ver com a quebra de relação do deputado com o executivo.
“Isso não procede, nós temos gente de todo o tipo no Congresso e, às vezes você pensa que a palavra de um parlamentar como ele, que foi líder do governo, e que está aborrecido com o governo e dá uma versão dessas para justificar a perda de prestígio que ele tem hoje. Ele quer realmente se projetar criando um fato político novo”, contra-atacou o deputado piauiense em entrevista exclusiva à Teresina FM.
Átila também garantiu que não recebeu nenhum valor para se posicionar a favor de votações de interesse do executivo: “Se ele recebeu, foi ele, eu não recebi”.
As declarações de Waldir constam em matéria do The Intercept Brasil que foi ao ar no final de semana. Na oportunidade, ele destacou que o presidente Jair Bolsonaro também agiu para garantir a eleição de Arthur Lira (PP-AL) presidente da Câmara Federal. “R$ 10 milhões [por voto em Lira]. E na [reforma da] Previdência, R$ 20 milhões por parlamentar”, revelou o deputado.
Inicialmente as verbas negociadas teriam sido liberadas diretamente do orçamento do Executivo; depois teriam passado a sair das emendas de relator (também chamadas de RP-9 ou “orçamento secreto”).
Átila Lira, inclusive, falou sobre o assunto; defendeu a liberação de valores do orçamento secreto e criticou o Supremo Tribunal Federal (STF). “Sou a favor, desde que elas sejam transparentes e elas estão sendo sim; mas há a necessidade de torná-las ainda mais transparentes”, defendeu.
No último dia 08, em caráter liminar, o STF decidiu suspender o repasse das RP-9 por entender, dentre outras coisas, que não há a devida transparência na prestação de contas entre governo e parlamentares. “Abuso de poder do Supremo, ele tinha que ouvir a Câmara, estabelecer um diálogo, e não se basear somente na versão dada pela oposição e pela imprensa que é contra o governo”, esbravejou Lira.
Para o Orçamento de 2021 a maior fatia das emendas foi destinada justamente para o orçamento secreto: R$ 18,5 bilhões. O dinheiro fica nas mãos do governo, que o distribui, usando critérios bem particulares, usando como interlocutor o responsável pela relatoria do Orçamento.