19/11/2024

Política

‘Rachadinha’: ex-funcionário de Carlos Bolsonaro na Câmara do Rio afirma ao MPRJ que nunca teve crachá nem sabe o nome dos colegas da época

Gilmar Marques trabalhou no gabinete de Carlos por sete anos. Mesmo assim, afirmou a promotores que não se lembra dos nomes de colegas e disse que trabalhava em Juiz de Fora, Minas Gerais.

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Publicado por: Caio Rabelo 04/12/2021, 07:38

O ex-servidor público Gilmar Marques, que trabalhou no gabinete do vereador do Rio Carlos Bolsonaro de 2001 a 2008, disse ao Ministério Público que não se lembra dos nomes das pessoas com quem trabalhava e que nunca teve crachá.

A declaração foi dada no âmbito da investigação que a apura a possível existência de um esquema de “rachadinha” no gabinete do filho do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Foto: Reprodução/Instagram

O MP investiga se Carlos Bolsonaro recebeu de volta parte dos salários de ex-funcionários que trabalharam em seu gabinete. Ele já teve os sigilos bancário, fiscal e telemático quebrados, junto com outras 26 pessoas, e o MP continua ouvindo depoimentos de funcionários investigados.

Ao depor, Gilmar disse que, apesar de trabalhar por sete anos com Carlos Bolsonaro e receber salário pago com dinheiro público, nunca teve crachá na Câmara do RioEm maio, a GloboNews mostrou que a Justiça autorizou a quebra dos sigilos.

Relações

Em setembro, o MP convocou para prestarem depoimentos o casal Gilmar Marques e Andrea Siqueira Valle, que está separado.

Isso porque Gilmar trabalhou com Carlos Bolsonaro de 2001 a 2008, o mesmo período em que a ex-cunhada e ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro, Ana Cristina Siqueira Valle, foi chefe do gabinete do parlamentar.

Andrea é irmã de Ana Cristina Siqueira Valle, que é ex-mulher de Jair Bolsonaro e chefiou o gabinete de Carlos Bolsonaro no mesmo período, entre 2001 e 2008.

Andrea já foi assessora de Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados entre 1998 e 2006. Também trabalhou de 2008 a 2018 no gabinete do então deputado e hoje senador Flávio Bolsonaro. Antes disso, foi assessora de Carlos Bolsonaro, de 2006 a 2008, na Câmara dos Vereadores do Rio.

Ela é investigada sob a suspeita de praticar a “rachadinha” tanto no gabinete de Flávio quanto no de Carlos. Andrea foi alvo de quebra de sigilo em duas investigações. No depoimento aos promotores do Ministério Público, ela preferiu exercer o direito de ficar calada.

Relacionamento antigo

Andrea teve um relacionamento com Gilmar Marques, de 62 anos, com quem teve uma filha em 2000. O casal se separou logo em seguida. Em depoimento ao MP, Gilmar contou que, na época em que a filha nasceu, ficou desempregado.

Depois disso, foi procurado pela ex-cunhada, Ana Cristina Siqueira Valle, e comentou que estaria em “vias de perder o emprego”, e que poderia passar por dificuldades para pagar a pensão da filha. Foi aí que, segundo Gilmar, Ana Cristina ofereceu ajuda.

Ela teria afirmado a ele que teria condições de colocá-lo pra trabalhar em um dos gabinetes da família Bolsonaro.

O depoimento

Gilmar trabalhou no gabinete de Carlos por sete anos, de 2001 a 2008, mas disse aos investigadores que não se recorda bem do trabalho que realizava. A função ocupada por ele era a de assessor parlamentar na Câmara do Rio.

Durante todo esse tempo, ele contou aos promotores que morava em Juiz de Fora, em Minas Gerais, a 186 quilômetros do Centro do Rio. De carro, o trajeto dura quase três horas, ou seja, cerca de seis horas para ir e voltar.

Segundo ele, havia muita “flexibilidade no serviço” e que não vinha com frequência ao Rio, mas também não deixava de ir ao trabalho.

A flexibilidade teria permitido a ele, inclusive, não usar um crachá para ter acesso à Câmara Municipal. Gilmar afirmou que ele precisava pedir autorização para poder subir no gabinete.

Ele também afirmou que “acredita que não tivesse folha de ponto”, nem se lembra de ter assinado ponto. Normalmente, o homem declarou que “não tinha muito serviço”.

Andar errado

Apesar de não ir muito à Câmara, o ex-funcionário se lembrou que o gabinete do vereador ficava no bairro da Cinelândia, no Centro do Rio. Mas falou acreditar que a sala do parlamentar ficava no 14º andar de um prédio, mesmo sem saber com certeza.

A informação não bate com o gabarito dos gabinetes dos vereadores da cidade – que só vão até o 10º andar de um dos prédios da Câmara.

A investigação do MP aponta que Gilmar tinha cinco endereços registrados enquanto trabalhava no gabinete Carlos Bolsonaro, três deles são em municípios de Minas Gerais e outros dois no Rio. Os dois imóveis pertenceram ao presidente Jair Bolsonaro. Um deles é um apartamento no bairro do Maracanã, na Zona Norte; o outro é uma casa na Barra da Tijuca, na Zona Oeste.

Um registro obtido pela GloboNews aponta que o apartamento foi do presidente até 2002. Já a casa está listada na declaração de bens de Bolsonaro à Justiça Eleitoral em 2006.

O imóvel também foi registrada na Câmara do Rio como residência de outros três parentes da ex-mulher de Jair Bolsonaro, além de Gilmar. Todos trabalharam no gabinete de Carlos.

Apesar disso, ele disse que não se recorda de ter utilizado o endereço na Barra da Tijuca, e que acredita que possa ser um comprovante de residência que tenham arranjado pra ele.

Sem memória

Outros detalhes também fugiram da memória do ex-assessor de Carlos Bolsonaro. Gilmar falou em depoimento que ficava mais acompanhando os outros assessores, mas não sabe exatamente o que estava acompanhando.

Acrescentou que eram várias pessoas e que não se recorda dos nomes das pessoas com quem trabalhava.

Gilmar Marques e a ex-mulher Andrea Siqueira Valle estão entre as 26 pessoas que tiveram sigilo bancário, fiscal e telemático quebrado junto com o vereador, na investigação sobre a suposta prática de “rachadinhas” na Câmara Rio.

Em depoimento, Gilmar negou que devolvesse parte do salário para qualquer pessoa do gabinete do parlamentar.

O que dizem os citados

Em nota, a defesa de Carlos Bolsonaro afirmou que, “em respeito ao sigilo determinado pelo juízo, não pode se manifestar sobre a investigação”. Acrescentou, ainda, que “lamenta profundamente mais um vazamento ilegal de informações desse procedimento, que está sendo utilizado apenas para atacar a imagem do vereador”.

Fonte: G1

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