Especialistas afirmam que levantamentos retratam “momento” e servem como “ferramentas informativas” para os candidatos
Matéria de Rodrigo Carvalho
Agência Nordestina de Notícias (ANN)
As pesquisas eleitorais divulgadas durante o primeiro turno das Eleições 2022 revelaram os mais diversos resultados. Em um pleito polarizado, tanto a nível estadual quanto a nacional, os números divulgados pelos levantamentos geraram ainda mais expectativa.
No Piauí, institutos como Ipec (antigo Ibope), Opinar e Credibilidade apresentavam o candidato Silvio Mendes (União Brasil) sempre à frente da disputa pelo governo do Estado. Já Amostragem e Datamax indicavam o governador eleito Rafael Fonteles (PT) na liderança.
A única semelhança entre todos os institutos era a larga vantagem do senador eleito Wellington Dias (PT) em relação ao seu adversário Joel Rodrigues (Progressistas) na corrida por uma vaga no Congresso Nacional.
Contudo, quando os piauienses foram às urnas, a diferença significativa entre as votações de Rafael e Silvio (57,17% x 41,62%) e o acirramento dos números de Wellington e Joel (51,34% x 47,60%) foram as principais surpresas.
O cientista político Victor Sandes explica que as pesquisas retratam apenas um “momento”, enquanto o resultado final pode ser bastante diferente.
“É importante considerar que [as pesquisas] não preveem o resultado das eleições, mas são um retrato do momento. Quando analisadas em perspectiva, podem apresentar uma determinada tendência”, aponta.
Sandes afirma ainda que vários pontos justificam o motivo de os levantamentos não serem tão precisos. “[Eles] não conseguem captar corretamente a abstenção que ocorrerá no pleito, muito menos o perfil desses eleitores. Além disso, há uma porcentagem bastante relevante de indecisos que, embora diminua ao longo do tempo, também pode modificar o cenário”, considera.
O estatístico Batista Teles, proprietário do Amostragem, detalha como as pesquisas são realizadas. O instituto celebrou o fato de ser um dos que mais se aproximou do resultado das urnas: a última estimativa, divulgada em 30 de setembro, dois dias antes do primeiro turno, indicou Rafael com 50,7% dos votos válidos.
“A grande maioria das estimativas realizadas por nós utilizou uma amostra muito boa [2 mil entrevistas] em termos de tamanho e representatividade. Geralmente os institutos utilizam essa quantidade para calcular as intenções de voto no país inteiro. Abarcamos 90 municípios do Piauí, contemplando todas as regiões”, ressalta.
Embora tenha chegado perto, Teles lembra que nem mesmo seu instituto acertou de forma exata os números finais. “Ninguém deu 57% para Rafael. Indicamos que ele ganharia, mas não com essa proporção. [No Senado,] a surpresa foi o crescimento de Joel, embora já houvéssemos detectado essa tendência, particularmente em Teresina”, salienta.
O dono do Amostragem esclarece, por fim, que os levantamentos pouco têm o papel de influenciar os eleitores, servindo mais como “ferramentas informativas” para os candidatos e as chapas.
“As pesquisas têm peso na decisão final do voto, ainda que não seja o que as pessoas costumam atribuir […] Com as novas tecnologias, temos mais meios de controlar a qualidade das entrevistas. Digo que a influência ocorre internamente, no emocional do próprio candidato, de sua equipe e de seus cabos eleitorais”, conclui.