Cientista político e estatístico apontam preferência do eleitorado piauiense por candidatos apoiados pelo petista
Matéria de Rodrigo Carvalho
Agência Nordestina de Notícias (ANN)
Essa é a segunda de uma série de reportagens sobre as Eleições 2022. Na terça-feira (4), você viu as opiniões de um cientista político e do proprietário do Amostragem sobre a influência das pesquisas eleitorais.
O resultado do primeiro turno das eleições no Piauí reafirma uma tendência do eleitorado a votar em Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e em candidatos apoiados pelo ex-presidente da República.
Foi no estado que Lula obteve o maior percentual de votos do país, 74,25%, contra 19,90% do seu principal adversário Jair Bolsonaro (PL). Do mesmo modo, em eleições anteriores, candidatos a governador e senador vinculados ao petista venceram suas respectivas disputas.
O cientista político Victor Sandes lembra que esse fenômeno é “histórico” e se deve à concentração de pessoas dependentes de programas sociais, como o antigo Bolsa Família, implementados nos governos do PT.
“Isso se deve a uma série de políticas sociais, programas de transferência de renda que possuem um grande número de beneficiários no Piauí, os quais favorecem os candidatos petistas. Quanto ao impacto do fator Lula na votação de Rafael, algumas pesquisas estaduais já apontavam esse processo”, observa.
Sandes afirma que o governador eleito Rafael Fonteles (PT), ainda que fosse desconhecido, venceu a corrida pelo Palácio de Karnak com o apoio decisivo de Lula.
“O Rafael conseguiu uma porcentagem de votos superior inclusive à do Wellington [Dias, senador eleito pelo PT], o que realmente indica o impulsionamento de um candidato menos conhecido que o adversário [Silvio Mendes, do União Brasil]”, analisa.
O estatístico Batista Teles, proprietário do Instituto Amostragem, diz que as pesquisas já revelavam como a presença de Lula poderia ser determinante para a eleição de Rafael.
“Muitos questionaram quando o Amostragem incluiu uma pergunta sobre o potencial de transferência de votos do ex-presidente à campanha de Rafael. O cenário estimulado, em que apresentávamos um disco aleatório com todos os candidatos, era diferente do ‘com apoio’, no qual Silvio, vinculado a Ciro [Nogueira, ministro da Casa Civil], variava para baixo, enquanto Rafael tinha um acréscimo significativo quando ligado a Wellington e Lula”, detalha.
Teles explica que, no meio do pleito, quase metade do eleitorado ainda não sabia quem era o candidato apoiado pelo presidenciável do PT ao governo do Estado.
“Indagamos ainda, nos últimos três ou quatro levantamentos, se os eleitores o conheciam; um percentual preocupante de 42%, 45% não fazia ideia de quem era. Estávamos no mês final da campanha e os votantes das classes C e D nunca haviam ouvido falar de Rafael. Ainda assim, ele bateu a intenção de voto – com bastante precisão – no cenário ‘com apoio'”, destaca.
O dono do Amostragem acrescenta que, na reta final da campanha, a distribuição de “santinhos” com os nomes de Rafael e Lula foi crucial para o resultado, o qual considera “surpreendente”.
“Os deputados, vereadores e prefeitos da base de Rafael – além, é claro, de seus apoiadores -, foram a campo três dias antes da votação e entregaram ‘santinhos’ nos quais Rafael aparecia ao lado de Wellington e Lula. A ligação com o número do ex-presidente fez com que o ex-secretário obtivesse esse desempenho”, conclui.