Os atrasos na apuração e os problemas na transmissão de dados para os resultados provocaram suspeitas na oposição, que denunciou uma “farsa”.
O candidato do partido governista da Nigéria, Bola Tinubu, foi proclamado nesta quarta-feira (1º) vencedor da eleição presidencial, um resultado contestado pela oposição, que sonhava com uma mudança na administração do país de maior população da África.
A Comissão Nacional Eleitoral (INEC) anunciou que o candidato do Congresso de Todos os Progressistas (APC) recebeu 8,8 milhões de votos, o que possibilitou a vitória em uma das eleições mais disputadas na história da Nigéria.
Em segundo lugar ficou Atiku Abubakar, do Partido Democrático Popular (PDP), formação que governou o país entre 1999 e 2015. Ele recebeu 6,9 milhões de votos. Peter Obi, do Partido Trabalhista (PL), ficou em terceiro, com 6,1 milhões de votos. Além disso, Tinubu também recebeu 25% dos votos em pelo menos 24 dos 36 estados nigerianos e em Abuja, a capital federal, uma exigência da lei eleitoral para ser declarado vencedor no primeiro turno.
Os simpatizantes do candidato comemoraram a vitória com gritos de “Jagaban” (“chefe”) diante da sede da campanha.
“Peço a meus adversários que nos deixem formar uma equipe conjunta. É a única nação que temos”, afirmou Tinubu aos opositores, que o acusaram de “fraude” e pediram a anulação das eleições antes da divulgação dos resultados oficiais. “É um país que devemos construir juntos, voltando a unir as peças quebradas. Temos que trabalhar na unidade”, disse.
Aos 70 anos, o ex-governador de Lagos (sudoeste), chamado de “o padrinho” por sua imensa influência política, concretiza a ambição de sua vida. “É a minha vez”, repetiu diversas vezes durante a campanha o político veterano, salpicado por muitas acusações de corrupção, que sempre negou e pelas quais nunca foi condenado.
Ele sucederá o presidente Muhammadu Buhari, 80 anos, que deixará o poder depois de concluir o limite constitucional de dois mandatos, período em que, segundo os críticos, não cumpriu a promessa de aumentar a segurança do país.
Tinubu, iorubá de confissão muçulmana, terá a difícil missão de erguer o país mais populoso da África (216 milhões de habitantes), abalado pela economia em declínio, a violência recorrente de grupos armados e o empobrecimento geral da população.
Considerado favorito durante muito tempo para as eleições, em particular graças à influência nacional de seu partido e a sua fortuna, a vantagem de Tinubu caiu durante a campanha. De modo paralelo, a imagem de Peter Obi, cristão e ex-governador do estado de Anambra (sudeste), 61 anos, conseguiu seduzir a juventude ávida por mudanças, cansada da elite envelhecida e com reputação de corrupta.
Mais de 87 milhões de pessoas estavam registradas para comparecer às urnas no sábado, mas o índice de participação ainda não foi divulgado. A votação transcorreu sem incidentes, mas os atrasos na apuração e os problemas na transmissão de dados para os resultados provocaram suspeitas na oposição, que denunciou uma “farsa”.
“Perdemos completamente a fé em todo o processo”, afirmaram durante uma entrevista coletiva na terça-feira representantes da oposição, que pediram o “cancelamento imediato” do pleito e a organização de uma “nova votação”.
O INEC rebateu as acusações da oposição, que chamou de “infundadas e irresponsáveis”, e afirmou que os partidos têm liberdade para procurar os tribunais caso se considerem prejudicados. A Nigéria tem um longo histórico de manipulação e compra de votos.
As sete eleições nacionais organizadas desde o retorno da democracia, em 1999, foram contestadas. Vários observadores internacionais, incluindo uma missão da União Europeia, denunciaram “falta de transparência” e falhas na organização do processo.
A decepção deve ser grande entre os opositores, em particular entre os eleitores de Peter Obi, que acreditavam na possibilidade do candidato – que foi o mais votado no estado Lagos, reduto do partido do governo. A ONU fez um apelo por calma e pediu aos candidatos e seus partidários que não adotem qualquer comportamento que possa prejudicar o processo eleitoral, assim como a paz e a estabilidade.